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quinta-feira, 28 de julho de 2011

A estória de Amadeu

Olá meu irmão. Permita-me apresentar-me, nome é Nestor. Vou contar aqui uma estória. Não é mais uma estória de um rico libertino ou um famoso ontem de sucesso mundano. Mas sim, uma verdadeira estória de abnegação e serviço. Como muitos dos vultos que tivemos sobre a Terra, este se trata de um chamamento para o bem. Pois, estejamos certos de que os grandes da eternidade não deixam seus nomes lápides pomposas, estátuas ou revistas de fama. Não os acharemos de pronto ou com poucos esforços, mas ouviremos falar destes em lugares desconhecidos, envoltos a grandes trabalhos assistenciais e morais. Eles se esquivam a todo instante dos elogios ou agradecimentos, mas suas santas obras se desdobram pela espiritualidade e suas estórias estão eternamente gravadas nos raios imperecíveis do éter universal.

Desperdiçamos, por orgulho e ambição, grandes oportunidades de nos renovar e olvidamos os valores que a vida nos apresenta como sustento a cada dia. Os homens estão longe de perceber o quanto suas preces são atendidas e o quanto de bondade emana do Eterno. Ingratos nós que enquanto imploramos a misericórdia e o auxílio, permanecemos no erro com nossa incredulidade e orgulho que repele o ensejo que o Pai entrega nos como atendimento a nosso clamor. Não duvidais, homens que o filho que partiu lhe retorna aos braços nos olhos de uma criança que lhe bate a porta solicitando abrigo ou que a dúvida para uma decisão importante lhe chega através de uma inspiração delicadamente expressada por um ente que lhe atravessa a vista. Assim foi comigo.

Vim ao mundo que hoje conheceis sob promessas erguidas por mim mesmo. E, temendo minhas más inclinações, se mesmo com todos os sinais eu falhasse, implorei aos benfeitores que enviassem um sinal tão forte que fizesse com que a dor sacudisse minhas fibras mais recônditas, a fim de me gritar à alma, como clarim divino, ao chamamento para o caminho verdadeiro. A estória que trago é a do emissário Amadeu. E tentarei, ciente de minha incapacidade, resumir a vida deste grande homem numa já falida tentativa de resumir com palavras o que é amor e o sacrifício.

Nascido na classe média, este espirito surgiu na terra como homem comum, dono de um temperamento controverso mas que no fundo trazia fortes sinais de humildade e fé. Amadeu desenvolveu-se como qualquer menino e trazia no olhar um sentimento de profunda melancolia que procurava abafar com gestos de terna alegria. De aspecto corpulento, fugia de todo exagero terreno. Um sentimento de limite e bom senso o guiava nas mais difíceis decisões da vida.

Crescido sem religião, a morte para Amadeu era um mistério que convidada à dor e a reflexão. Como todo homem, tinha de se submeter às decisões de chegada e partida dos entes queridos que vida impõe a todos. Ao andar nas ruas para dirigir seus afazeres, a visão dos moradores de rua lhe feria profundamente o coração. A miséria humana, a tristeza e o desespero alheio os fazia, ao mesmo tempo, tornar-se cada vez mais feliz por tudo que possuía, sem ter de passar por aquelas duras provações, mas lhe incomodava de forma singular, trazendo grande amargura e incômodo.

O passar do tempo, sem nada produzir, contra aquelas dolorosas visões, o perturbavam profundamente. Como todo homem que possui um confortável leito, acostumamo-nos a separarmo-nos dos miseráveis, dos pobres, dos médios e dos ricos. Dogmatismo da sociedade culpada que ainda hoje nos compele a criar raciocínios de isenção de culpa e consciente inercia.

Amadeu não sabia compreender os sentimentos que lhe chegavam ao peito ao ter de responder ou agir sob o pedido de uma alma desesperançada que lhe pedia dinheiro nas ruas. Em seu intimo, onde misturavam-se repulsa e dúvida e o talhar do tempo junto e a experiência, dava lugar à admiração a estes seres, pela honestidade de não roubar e atitude humildade em pedir. Refletia se a vida era única ou somente mais uma página frente a eternidade. E, se assim fosse, quem ele teria sido no passado? E será que alguém também não lhe estendera o braço amigo? Por que ele recebeu uma família, que não era rica, mas não faltava o pão diário e aqueles seres não? A natureza tendia sempre ao equilíbrio. E, se tudo pendia a uma força maior e permanente, por que as vidas humanas pareciam ser diferentes? Diferentes raças, cores, opiniões, condições e disposições o convidavam a profundas reflexões. Em simples raciocínios, Amadeu, sem mesmo ser apresentado a uma fé religiosa, fez nascer em si a verdadeira fé; a fé simples e pura.

E, num destes dias apressados tal qual a vida nos impõe, surpreendeu-se ao responder negativamente a uma senhora de aspecto sujo e triste. Após rápidos passos na direção oposta, uma grande dor lhe assaltou o peito. Toda sua reflexão veio à tona e, em poucos instantes, foi levado às lagrimas por sua atitude. Secando rapidamente o rosto, correu de encontro à senhora que já seguia entristecida pelo caminho oposto. Amadeu se desculpou pela resposta negativa e ríspida oferecendo alimento e atenção. Aquele dia o transformara para sempre.

Em pouco tempo Amadeu estava envolvido em diversos trabalhos voluntários. Do serviço ao próximo tirava a alegria que sempre buscava sem antes saber onde procurar. Com o passar dos anos, seus trabalhos na seara do bem se expandiam e sua cabeça encontrava o repouso feliz na medida de seus esforços empregados nos dias em nome da caridade. Já não mais sentia vergonha por ter tanto mas, sim, imensa alegria de empregar seus recursos e seu tempo em prol dos que nada tinham. Seu desejo de servir parecia crescer com a carência dos que lhe chegavam. A alegria de cada suor deixado no solo de sua semeadura era fruto de esperança que semeava amor para os que lhe batiam à porta.

Em alguns anos, se realizava o motivo de sua vinda ao mundo dos homens. Erguia-se a instituição de abrigo e assistência aos desamparados. Mesmo sem conhecer os detalhes invisíveis de seu empreendimento físico, no plano espiritual inúmeros trabalhadores se preparavam para o serviço do Cristo enquanto a contra-parte da instituição era alicerçada no plano espiritual.

Sozinho, porém vigoroso, Amadeu recolhia, em maioria, velhinhos e velinhas, jogados ao relento pelas mais diversas causas. Tinha um carinho todo especial a estes seres com tantas estórias e retribuídos por tantos com ingratidão e desleixo. Ainda jovem, não era raro o vermos a negar encontros e festividades que a sociedade comum parecia impor para entregar-se ao pesado trabalho de limpeza, higiene e amparo. Podemos aqui citar uma ocasião onde toda sua família seguia em trânsito para uma festividade e ele, ao passar por um senhor de idade que lhe pedia alimento e ajuda, deixou sujar suas claras roupas para festividade a qual se dirigia para se entregar a mais uma noite de trabalho em nome da assistência imediata. Os familiares seguiram caminho com pensamentos e comentários menos dignos, ressaltando a loucura que assaltava seu parente.

Sexagenário, Amadeu recebe com graça uma doença que o impediria o trabalho. A aposentadoria compulsória era a porta para o serviço integral e grandes desafios, mesmo com baixos recursos. Ridicularizado por amigos e tratado como louco por muitos familiares entendeu que o mundo, infantilizado nas ilusões da matéria, ainda carecia de tempo para entender o real sentido da vida.

Passou a dedicar seu tempo de maneira integral ao abrigo que construira, inclusive, lá vivendo. Seus cuidados, e o local por ele mantido, era tudo para quem nada tinha e provava a mais absoluta necessidade. Cansado pelo enorme esforço físico necessário à manutenção da obra à higiene dos enfermos e dos deficientes, uma preocupação com a educação dos socorridos lentamente lhe chamava a reflexões. Muitos ali, embora necessitados de tudo, ainda eram espíritos embrutecidos e seus cuidados ofereciam regaço e amparo, mas não lhes tranformavam a conduta. Amadeu não buscava reconhecimento ou mesmo esperava sequer um olhar de agradecimento, mas sofria pela falta de oportunidade e recursos educativos. Sua obra parecia uma guerra solitária contra a miséria em todas as suas formas.

Certa vez, num dos quartos coletivos, onde dormia no chão com os inválidos, após a costumeira limpeza noturna, Amadeu desaba em lágrimas, temendo ser de pouca utilidade para àqueles irmãos. Quando, caindo no sono, sente-se leve e a flutuar. Aquela sensação não parecia ser inédita, mas era emocionante e algo parecia iminente.

Numa visão que se clareava lentamente Amadeu vislumbra uma paisagem que, não obstante do mesmo local onde seu corpo físico repousava, desdobrava um ambiente profundamente diferente. O vazio que outrora parecia preencher o espaço agora era tomado por móveis, aparelhos e assistentes em belos trajes. Eram almas agradecidas e trabalhadores iluminados que, ao reparar a surpresa consciente de Amadeu, alguns vinham cumprimentá-lo, outros o reverenciavam. Tocado delicada e carinhosamente no ombro, um ser de elevada estatura e grande luminosidade se apresenta oferecendo um passeio pelo local onde Amadeu já estava acostumado a transitar, mas, agora, frente àquela dimensão extraordinária o passeio era uma experiência totalmente nova e surpreendente. Conduzido com grande ternura pela entidade luminosa, Amadeu percorre emocionado os enormes cômodos do abrigo. O terreno era limpo e estava repleto de espíritos agradecidos que demonstravam grande admiração e respeito. Ao se aproximarem do que ele julgava o fim do estabelecimento Amadeu é convidado a continuar a caminhada, agora, dizia o amigo iluminado; um pouco mais rápida. Eles adentram juntos, numa passagem que inspirava atração e transcendente brilho. Cada passo da caminhada parecia corresponder a milhares de quilômetros e chegam num local de inenarrável beleza. Muito similar a um posto socorrista moderno, uma música e um aroma sublimes penetravam o âmago do espirito de Amadeu que mal conseguia encontrar forças para controlar as emoções. Enquanto caminhava, agora mais devagar e contemplativo, naquela divina instituição, se envergonhava pelo sentimento que havia sentido anteriormente ao se julgar sozinho.

Ao entrar num amplo salão, centenas de vozes iniciam um belo coro enquanto uma entidade feminina de seráfica beleza traz um livro que emana grande luz. A entidade ao se aproximar parece provocar grande sensação de prazer e agradecimento. Uma mensagem telepática é emitida pela vibrante mulher enquanto lhe oferece aquela obra especial. Ele toma o livro com indefinível alegria enquanto todos ali no salão lhe parecem sorrir amavelmente. As emoções são tão fortes que sente dificuldade de sustentar e, subitamente, seu corpo começa a pesar e sofrer uma atração para baixo, despertando em seguida no corpo físico durante a madrugada. Ainda um pouco confuso, Amadeu acorda com o coração ainda tocado pelas maravilhosas lembranças sem saber distinguir se tratava ou não de um sonho. A despeito da memoria que apresentava dúvidas do ocorrido, sentimentos de renovação, força e confiança agora lhe enchiam o coração.

Certo dia uma senhora de semblante muito terno chega-se às portas do abrigo oferecendo auxilio. Ela ouvira falar da obra e achou o trabalho fantástico, informara ela que poderia ajudar em qualquer tarefa num turno todos os dias. Com ela, posteriormente, duas outras companheiras se somaram àquela obra social de grande auxilio. Trabalhadores e recursos cresceram com o passar dos anos. Em dado momento, enquanto Amadeu conversava com outros trabalhadores, revendo o passado, dizia que não se imaginasse tudo aquilo há anos atrás lhe pareceria uma realidade impossível. Uma das senhoras, certa vez, perguntou sobre religião, para a surpresa de todos, ele dizia que ainda não havia se filiado a nenhuma doutrina. Seu objetivo era o bem, assim como o objetivo de toda religião. Àquela altura, conversar com Amadeu era uma lição de amor. A caridade é a verdadeira religião ela, dizia ele, é o amor vivo, o alimento da alma sem o qual nenhum ser humano pode viver. Em outro momento, uma das moças lhe apresenta o evangelho do Cristo. Estranha atração Amadeu sentiu para com aquele livro. Onde já o teria visto?

Amadeu lia diversas versões do evangelho que lhe chegavam. A leitura era inédita, mas nada parecia novo para seu espirito. O dito pelo Mestre parecia já ser conhecido de alguma forma. Ele fazia questão de estudar e meditar profundamente sobre grandes passagens que desencadeavam sábios ensinamentos e traziam refrigério para momentos de preocupação e solidão. Num grande momento de provação ele encontra um suave consolo, uma parte em especial da Boa Nova lhe tocou como nunca: "Enviei meus discípulos como ovelhas ao meio de lobos e vos recomendo que lhes sigais os passos no escabroso caminho. Depois deles, é a vós que confio a tarefa sublime da redenção pelas verdades do Evangelho. Eles serão os semeadores, vós sereis o fermento divino. Instituo-vos os primeiros trabalhadores, os herdeiros iniciais dos bens divinos. Para entrardes na posse do tesouro celestial, muita vez experimentareis o martírio da cruz e o fel da ingratidão... Em conflito permanente com o mundo, estareis na Terra, fora de suas leis implacáveis e egoístas, até que as bases do meu Reino de concórdia e justiça se estabeleçam no espírito das criaturas. Negai-vos a vós mesmos, como neguei a minha própria vontade na execução dos desígnios de Deus, e tomai a vossa cruz para seguir-me. Séculos de luta vos esperam na estrada universal. É preciso imunizar o coração contra todos os enganos da vida transitória, para a soberana grandeza da vida imortal. Vossas sendas estão repletas de fantasmas de aniquilamento e de visões de morte. O mundo inteiro se levantará contra vós, em obediência espontânea às forças tenebrosas do mal, que ainda lhe dominam as fronteiras. Sereis escarnecidos e aparentemente desamparados; a dor vos assolará as esperanças mais caras; andareis esquecidos na Terra, em supremo abandono do coração. Não participareis do venenoso banquete das posses materiais, sofrerei a perseguição e o terror tereis o coração coberto de cicatrizes e de ultraje. A chaga é o vosso sinal, a coroa de espinhos, vosso percurso ditoso da redenção. Vossa voz será a do deserto, provocando, muitas vezes, o escárnio e a negação da parte dos que dominam na carne perecível. Mas, no desenrolar das batalhas incruentas do coração, quando todos os horizontes estiverem abafados pelas sombras da crueldade, dar-vos-ei da minha paz, que representa a água viva. Na existência ou na morte do corpo, estareis unidos ao meu Reino. O mundo vos cobrirá de golpes terríveis e destruidores, mas, de cada uma das vossas feridas, retirarei o trigo luminoso para os celeiros infinitos da graça, destinados ao sustento das mais ínfimas criaturas!... Até que o Reino se estabeleça na Terra, não conhecereis o amor no mundo; eu, no entanto, encherei a vossa solidão com minha assistência incessante. Gozarei em vós, como gozareis em mim, o júbilo celeste da execução fiel dos desígnios de Deus. Quando tombardes, sob as arremetidas dos homens ainda pobres e infelizes, eu vos levantarei no silêncio do caminho, com as minhas mãos dedicadas ao vosso bem. Sereis a união onde houver separatividade, sacrifício onde existir o falso gozo, claridade onde campearem as trevas, porto amigo, edificado na rocha da fé viva, onde pairarem as sombras da desorientação. Sereis meu refúgio nas igrejas mais estranhas da Terra, minha esperança entre as loucuras humanas, minha verdade onde se perturbar a ciência incompleta do mundo!... Amados, eis que também vos envio como ovelhas aos caminhos obscuros e ásperos. Entretanto, nada temais! Sede fiéis ao meu coração, como vos sou fiel, e o bom ânimo representará a vossa estrela! Ide ao mundo, onde teremos de vencer o mal! Aperfeiçoemos a nossa escola milenária, para que aí seja interpretada e posta em prática a Lei de Amor do Nosso Pai, em obediência feliz à sua vontade augusta!"

As lições recebidas do Cristo eram imediatamente colocadas em pratica. Com o passar do tempo Amadeu demonstrou-se um grande sábio. Lidando com habilidade e serenidade a situações diversas. O abrigo contava com dezenas de trabalhadores verdadeiramente interessados. E, enquanto um segundo pavimento era erguido, com destino à expansão de espaço, diversos departamentos constituíam os mais variados ramos de atendimento como: assistência social, atendimento fraterno, auxilio de saúde física, mental e psicológica, evangelização e estudos diversos. De todos os abnegados trabalhadores Amadeu seguia como o mais firme e dedicado, não se permitindo um minuto de descanso, mesmo enquanto os trabalhadores seguiam para seus lares, ele, que residia em sua legada instituição de amor, continuava a servir durante a noite.

A energia e disposição de Amadeu surpreendia a todos, ele se transformara em referência de sabedoria e abnegação, negando para si todos os elogios e entregando ao Cristo. Não apenas seus trabalhadores se dirigiam a ele, mas, até mesmo, outros que ouviam falar de sua amorosa, sabia e humilde personalidade. Eis alguns dos diálogos que exemplificam a sabedoria desta grande alma:

Visitante: Por que você recolhe mendigos na rua ao invés de arranjar-lhes trabalho?
Amadeu: Meu amigo, eles necessitam de tudo. No estado atual quem os empregaria? Preciso antes dar-lhes o pão para ensinar-lhes a buscar o trabalho.

Trabalhadora descontente: Amadeu, alguns velhos são muito ingratos, deseducados e ate mesmo grossos.
Amadeu: Minha filha, pois são estes irmãos que mais precisam de nosso carinho e nossa atenção.

Trabalhador em provas: Não posso mais suportar, é muita pobreza e desgraça. Como você consegue?
Amadeu: O Cristo nos disse que veio para servir. Se Ele, puro, veio e sofreu tudo, ousaríamos nós fazer diferente ou murmurar?

Trabalhador desdenhoso: Que horror limpar tudo isso!
Amadeu: Filho, muitos podem até precisar de dinheiro, mas o mais cruel é faltar-lhes atenção e carinho e é nisso pelo que devemos trabalhar e sempre poderemos dar.

Trabalhador agitado ao entregar mantimentos e cobertas.
Amadeu: Amigo, não te importa em envolver-se caso não lhe agrade. Não leve desânimo a lugar algum. Se não te entusiasma em estender a mão junto a tua oferta, deixa-a ai. O excesso de adorno fere e a pressa fria magoa.

Fanático Religioso: Você, que recolhe mendigos na rua acha isso certo? Que religião manda você fazer isto? Todos tem o direito de estar nas ruas.
Amadeu: Certamente meu irmão, eles tem tal direito, por isso mesmo estão aqui de livre e espontânea vontade. Quanto à religião, o que é esta senão um caminho para o bem, para Deus? Não estou sob uma bandeira que me impõe serviço, faço por que sei. E o que é a religião senão uma linguagem para falar do mesmo do trabalho para Deus?

Trabalhador cansado: Irmão Amadeu, como superar tantas dificuldade e educar tantas almas endurecidas?
Amadeu: O que o senhor espera de nós é perseverança. Toda oportunidade de servir é uma benção. E todo tipo de trabalho honesto é útil e merecedor da atenção dos planos superiores.

Amadeu se destacava pela inteligência, habilidade e serenidade no trato das mais diversas situações. Se no plano material ele parecia um ser alquebrado onde o tempo se demonstrava impiedoso. No universo espiritual paralelo, podia-se ver o radioso halo a pairar sobre sua cabeça. Seu corpo, segundo olhos físicos, que se apresentava alquebrado pelo tempo, no campo astral denotava notória elevação num brilho áurico que ansiava por expandir-se.

Certa feita, durante a madrugada, o abrigo é visitado por um rapaz equivocado em suas intenções. Despertado pelo som do meliante que adentrara o ambiente Amadeu surpreende uma figura esquálida a procurar objetos valiosos. Antes que ele pudesse indagar algo ao rapaz, esse alça a mão em sua garganta vociferando: "onde está o dinheiro? Cadê os objetos de valor daqui? Amadeu, sem alterar-se e num esforço para respirar, procura falar ao rapaz, que afrouxa a destra do pescoço do bom velhinho dizendo: "Meu filho, de valor somente há os que aqui trago." O jovem, contrariado, passeia o olhar no ambiente e, sem nada encontrar de valor, diz: "Mas que casa é esta afinal? Que espécie de maluco aqui mora? Não vou sair daqui sem nada." E Amadeu, carinhosamente, lhe diz: "Sem nada jamais saímos de lugar algum. Você vir a este local fora providencial, tens algo aqui a realizar." O jovem, por um momento, balança durante aquela afirmação inspirada. Como que desarmado, procura ordenar as ideias diante daquelas frases que convidavam a tantas reflexões imediatas. Amadeu, como que observando o jovem hipnotizado, convida-o a um passeio pelo local. O intruso parece atender maquinalmente aquele convite tão natural.

Curiosamente, se direcionam a um leito e, ao passar, o jovem esbranquiça. Agora, de aparência como que desesperada eleva as mãos a cabeça e, em voz alta, repete algumas vezes: "Não, Não!" De pernas fracas, se aproxima de uma singela cama onde repousava uma senhora idosa e muito fraca, exclamando: "Mãe, mãe, mãezinha, mãezinha minha! Meu Deus!"

Após algumas horas, sem se afastar do leito da materna enferma, o jovem, em pranto compulsivo, resume sua estória: "cometi muitos erros na vida, mas abandonar minha mãe foi o pior de todos. O arrependimento que tentava me dominar era por mim canalizado em ódio pela sociedade. E, num dia, numa crise de dor, gritei a Deus que se Ele trouxesse minha mãe de volta eu o Perdoaria. E aqui estamos. Oh meu Deus, meu Deus!" Amadeu, embora também emocionado, procura consolar o pobre rapaz dizendo: "Filho, todos os dias são recomeços e novas oportunidades. A dádiva que recebe hoje lhe oferece resgate imediato e representa remissão para com a sua sofrida consciência. Alegremo-nos com o que nos é ofertado por misericórdia e trabalhemos na causa do bem e da caridade. Venha, vou mostrar lhe o local e preparar-lhe um leito ao lado de sua mãe."

O jovem, totalmente transformado, caí em lágrimas aos pés de Amadeu rogando-lhe perdão. Amadeu não hesita e ternamente, levantando-o e enxugando as lagrimas, lhe diz: "Meu jovem, levanta-te, também sou homem e, assim como você, estou aqui para servir. Se achar que dever ajoelhar e agradecer faça-o ao Pai." O jovem, de nome Nestor, renova-se a cada dia e torna-se um dos mais fieis trabalhadores da casa. É através dele que o trabalho de Amadeu toma continuidade e ganha estória.

Certa manhã, Amadeu desperta diferente. Um silêncio curioso lhe chama a atenção. Nestor, que se abrigava junto do bondoso velhinho, também desperta e, preocupado, procura assisti-lo. Educadamente dispensado pelo ancião, Nestor voltar a dormir depois de acompanhar Amadeu percorrer os leitos acariciando cada um dos abrigados com amável sorriso. Uma sensação de paz lhe traz uma certa ansiedade no porvir. Minutos mais tarde, ainda pela manhã, cumprimenta a todos em tom diferenciado, como se não parecesse possível; ainda mais terno. Embora carinhosamente rechaçado, transmite instruções de continuidade do lugar, de disposição e sugestões para o futuro.

A tarde, uma jovem senhora entra no recinto pedindo ajuda para um parente que não pode mais se levantar e queria instalá-lo ali. Amadeu atende. Nestor oferece para acompanhar, mas os afazeres imediatos o impedem. O jovem pega o endereço e informa comparecer em breve no local para ajudar na remoção do senhor que aguarda. Amadeu segue com a senhora procurando tranquilizá-la durante o caminho. Colocam-se a subir um íngreme aclive não muito longe do abrigo. Amadeu encontra dificuldades para chegar ao local, dada a necessidade de vigor físico para o vencer o platô. A senhora, indica a casa e, enquanto Amadeu entra, ela diz que procurará mais ajuda para o transporte e coloca-se em outro caminho.

Amadeu entra na humilíssima choupana de dois cômodos e repara um homem muito idoso e enfraquecido num leito de palha. Suavemente, tenta despertar o senil que acorda cumprimentando-o. Amadeu lhe diz ao que vem e o homem responde: "Ah sim, vamos visitar vosso abrigo não é mesmo? Mas não sei bem, eu estou de partida." Amadeu, como percebendo um senhor já com a mente debilitada deixa-o falar sem interrompe-lo. "Pois é meu filho, não vou aqui me demorar. Mas podemos ir. Somente preciso avisar ao meu senhor que me ausentarei por alguns instantes. Você o conhece? Ele é alguém incrível. Sem ele eu nada seria. De todos que aqui vem poucos o compreendem. E você veio. Deus o abençoe." E, apontando para a porta fechada que dividia o cômodo próximo, diz: encontre-o. Já que aqui está, vá, avise-o que estamos indo. Você vai ama-lo!"

Neste momento Amadeu olha para a porta como a procurar alguém. Mas uma estranha sensação parece lhe dominar a alma. Uma curiosa atração envolta a um magnetismo de irresistível interesse parece lhe chamar naquela porta. Amadeu ergue seu calejado corpo com dificuldade, ainda cansado pelo esforço dispensado no caminho, e dá alguns passos vacilantes para uma velha porta de madeira. Quando a voz sussurrante do enfermo parece exclamar com grande ternura e deixar as palavras ao vento: "Senhor, Senhor...". Amadeu volta-se para leito e nada mais vê! Não tem tempo de ficar surpreso pelo desaparecimento repentino do velhinho que mal podia se mexer. Confuso, volta-se a para a porta que parece se clarear e esconder algo intensamente brilhante por detrás.

Lentamente ao abrir, procura, diante da curiosa e abundante claridade que parece irradiar daquele o segundo cômodo, distinguir a figura de um homem de pé. Acreditando tratar-se de um problema da saúde ou ocular, Amadeu esfrega os olhos procurando afastar qualquer dificuldade que poderia subitamente explicar aquela visão inexplicável. Quando surge, agora mais nitidamente a figura de um homem ainda moço, que deixava transparecer nos olhos, profundamente misericordiosos, uma beleza suave e indefinível. Cabelos e barbas modestamente longos e sedosos cabelos destacando o semblante compassivo, como se fossem fios castanhos, levemente dourados por luz desconhecida. Um sorriso extremamente terno revela, ao mesmo tempo, intensa bondade e energia. Seu rosto de traços perfeitos, irradia da sua melancólica e majestosa figura uma fascinação irresistível.

Uma curiosa força arrebata-lhe as forças nas pernas fazendo-o maquinalmente os joelhos desfalecerem, prostrando Amadeu diante daquela encantadora criatura. Sem muito compreender a situação que se passa e em empenhado na tarefa de servir Amadeu tenta inutilmente colocar-se de pé para ouvir no que poderia ser útil. Quando, como uma criança que não compreende o que se passa e ainda de joelhos, procura olhar nos olhos daquela figura singular.

Seus olhos, ao encontrarem os daquele homem, inundam-se imediatamente de lágrimas que não cessam de abundantemente escorrer. Uma sensação nunca antes sentida lhe visita o coração transmitindo paz e esperança como que encontrado um poço de inesgotável felicidade. Amadeu está chocado enquanto procura nos escaninhos da memoria onde teria visto aquele ser que o velhinho anterior que subitamente desaparecera chamara de Senhor. Quando este lhe diz em tom de uma ternura e autoridade nunca antes por ele ouvido: "Filho. Tive fome e me deste o que comer, tive sede e me deste de beber, era forasteiro e me acolhestes, estava nu e me vestiste-me, adoeci e me visitastes, estava na prisão e me visitastes."

Amadeu, magnetizado e dominado por aquele ser, elucubra explicações físicas para aquele momento extraordinário. Porém, analisando aquela situação, não consegue crer naquilo que ocorre. Quando o homem, num gesto de pura bondade, sustentando-o suavemente pelos braços o ergue lentamente do chão. Neste momento, o tempo parece se suspender e Amadeu repara vários andares de camadas distintas são velozmente vencidas diante de seus olhos. E a figura daquele O qual não mais podia lhe confundir lhe rende um amável sorriso face a face lhe dizendo: "Amadeu, filho amado, serviste bem teu Senhor entra agora na glória que lhe pertence."

O cenário ao redor deles se descortina revelando indescritível beleza e uma plateia de sublimadas entidades que parecem felicitar aquele momento. O qual Amadeu, humildemente, reconhece tratar-se da despedida do plano terrestre. As sensações de alegria em sua expressão absoluta são imediatamente vividas dando lugar a um júbilo incessante e, O Mestre, como que deixando cair a roupagem física da qual se utilizara anteriormente manifesta agora o brilho radioso de sua personalidade espiritual que penetra o espirito de Amadeu despertando em seu ser a mais poderosa e pura felicidade. Juntos, alçam voo para esferas resplandecentes.

Sua obra continuou e, junto ao Cristo, fornecem ainda hoje o alimento mais precioso para sua continuidade da caridade no coração de todos os servidores abnegados: a inspiração. Seus trabalhadores, apos sua desencarnação, não permitiram que o desânimo, a tristeza, a dificuldade ou a saudade se instalasse, seguiram em frente e dão continuidade ao trabalho começado por Amadeu, mas estendido como caminho de luz que liga a terra aos planos felizes. Pois é no amor e sua ação em movimento; a caridade, que vencemos as ilusões e despertamos.

Meu nome é Nestor e deixo aqui minha estória, não para atestado histórico, ou homenagens, mas para convite à reflexão daqueles que receberem esta simples mensagem de que acima de todos reina a verdade imutável. E que o mais humilde e simples na terra pode ser um dos maiores no reino dos céus. Reencaminhei minha vida ao bem, beneficiado pelo grave aviso de dor que solicitei antes mesmo de vir ao mundo e deixo a pergunta à reflexão dos amigos em vida na terra: necessitamos mesmo esperar a dor para iniciarmos nossa renovação?

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