psicografia, descreve um caso de uma complexa transição e nos ajuda a
compreender como é trabalhoso e sofrido o retorno à pátria espiritual dos
mal informados. Compartilho-a aqui em terceira pessoa:
Amélia era uma crente fervorosa, praticava tudo conforme a interpretação do
orientador de sua igreja mandava. Lia os evangelhos, comparecia aos cultos,
contribuía na casa como era possível. Já madura e mãe, vitimada por um
problema cardíaco, seu corpo físico faleceu. Seus, ainda fortes, laços
fluídicos, mantiveram-na na terra por mais tempo que o desejado. Estava
ainda ligada ao antigo corpo físico, agora imprestável e que agora jazia
dentro de um caixão. Sua consciência despertava aos poucos com rápidos
lapsos de lucidez que oscilavam entre ver, ouvir e sentir impressões
externas juntamente com lembranças de alguns momentos de sua vida. Aos
poucos, a lucidez aumentava unida a algumas duvidas. Um desconforto tomava
forma, assim como incômodos em varias partes do corpo espiritual. A
serenidade e a fé deram ligar ao medo, a dúvida e preocupações. Sua visão
lentamente ficava mais nítida e o ambiente parecia hostil. A fraqueza e uma
estranha atração à maquina corpórea, que não mais respondia, a confundia
desesperadamente. Impossibilitada de sequer dar mais que alguns passos,
odores desagradáveis, visões macabras e idéias confusas deram lugar a um
estado de pânico que não tardou a se instalar. Em sua mente vinham algumas
questões a respeito daquele lugar que ela tentava associar involuntariamente
a momentos de sua vida; a pregação do líder de sua igreja, sua repugnância
às demais crenças, o não aceite em observar outros mandamentos que lhe
chegavam por meio de estranhos e amigos. Ela nem mesmo compreendia por que
estava passando por tudo aquilo. As sensações eram incompreensíveis e davam
lugar a elucubrações cada vez mais confusas que por sua vez faziam-na
visualizar criações mentais de espíritos infelizes nas redondezas do
cemitério onde sua cova jazia. Em outro campo vibratório, porém no mesmo
local, um número considerável de amigos fraternos a assistia. Alguns
trabalhavam no desligamento dos laços que a mantinha entrelaçada ao corpo
físico, outros aplicavam passes sobre sua mente de modo procurar fazê-la se
acalmar para que, assim, voltando seu espírito e sua vontade ao alto,
pudesse despertar perante algumas questões que talvez explicassem o que se
passava. Mas, infelizmente, o pouco preparo de Amélia não a permitia
compreender o apoio incessante e, ao invés de desejar desligar-se do corpo
físico e do local que a convidavam a sofrimentos inenarráveis, ela se
embaraçava cada vez mais em suposições que a levavam a estados ainda mais
infelizes. A situação perdurou alguns dias agravadas por pensamentos de seus
entes queridos, ainda encarnados, que lhe transmitiam tristeza e dolorosa
saudade. Até que o trabalho dos prestimosos auxiliares espirituais se deu
por completo: os laços fluídicos, que a mantinham-na presa ao corpo físico,
estavam completamente quebrados. Uma nova fase se iniciava e urgia
transportar o perispírito da senhora para um local de trabalho adequado. O
coordenador da missão prepara o plano que envolvia técnicos habilidosos, o
anjo de guarda de Amélia, caravana e transporte, recepção e instruções
futuras. A pobre senhora não podia visualizar sequer uma pequena fatia da
trabalhosa, elaborada e delicada operação que se transcorria em seu
benefício. O coordenador da missão conclui que mais alguns dias na crosta
terrestre ainda seriam de grande importância. Aplicam então um passe
balsâmico e fazem-na adormecer, transportam-na para uma célula de
atendimento espiritual, próxima a uma área onde a natureza abundava e
oferecia diversos recursos. Horas depois ela desperta e suas duvidas e
criações mentais voltavam a borbulhar. Os auxiliares procuravam minimizar a
situação enquanto outros técnicos, dentro dos limites permitidos, procuravam
domar as criações mentais criadas. No intimo de Amélia, se o paraíso agora
não se apresentou algo estava muito errado. Jesus não lhe abrira os braços
com seus santos anjos para recebê-la. Logo, infelizmente, por um motivo que
ela desconhecia, estava no inferno. E, neste ínterim, ela começa a moldar em
volta de si a forma como aprendeu a crer no inferno, segundo gravuras e
contos de sua religião. O ambiente se transforma e densificava cada vez
mais. Poucas horas depois, entidades, frutos de sua própria criação, munidas
de chifres, patas, rabos e tridentes a circulavam como a torturá-la. Havia
forte sensação de calor insuportável. Gritou, chorou e tentava fugir como
podia, mas suas criações a perseguiam com tanto afinco quanto ela as
alimentava. A triste situação assim permaneceu por mais alguns dias, até
que, notando certa receptividade, o coordenador da missão lhe insufla na
mente: "Deus é bom, é bom. Ele é todo bondade e lhe quer ao lado Dele!" A
mensagem toca o intimo da senhora que se acalma e raciocina sobre aquela
estranha intuição, se ajoelhando e, não mais suportando a situação, estende
as mãos ao alto rogando a Deus misericórdia: "Salve-me senhor, salve-me! Não
mereço! Te imploro. Por favor!" O pedido toma força de prece, as criações
mentais de Amélia perdem força agora dando lugar a imaginar Deus e seu reino
divino que, agora, habilitavam os técnicos a transmutarem as energias densas
criadas e prestar auxilio e sugestão mais intensa. Neste momento, o
coordenador da missão toma forma de um lindo e brilhante anjo e, ajustando
seu padrão vibratório ao de Amélia, faz-se visível a ela. O anjo brilhante,
batendo suavemente as enormes asas douradas a alguns metros do solo e num
fundo de grande luz e beleza, lhe estende os braços e diz: "Vem! Vem minha
filha!" Amélia sente-se deliciada, aliviada, como se houvesse sido resgatada
das profundezas de um inferno incompreensível. E, em lágrimas, entrega-se ao
belíssimo anjo que a toma fraternalmente no colo e a caravana, que já
aguardava, parte para a colônia: "Servos de Maria."
A viagem de Amélia estava apenas começando...
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