testemunho para vosso auxilio e instruçao. A estrada a percorrer é larga,
mas o homem a faz penosa por nossos próprios erros. Os convites aos desvios
são números e tentadores, porém, meus irmãos, todo o amparo, sugestão e
sofrimentos nos são colocados à frente para que enxerguemos o caminho
errado. E precisamos da lente de humildade para verificar nosso erro e nos
postarmos novamente à estrada larga destinada à ascensão que é destino de
todos. Meu nome é Mauro e vou aqui contar minha estória. Nasci em família
abastada, infelizmente com pouco valor moral. Meus pais também herdaram
grandes bens, porém poucas virtudes, trabalho até hoje por eles. Em minha
infância nada foi negado, cresci sem limites e jamais conheci a necessidade.
Minha adolescência, como era de se imaginar, regrou-se de drogas de diversos
tipos, sensualidade e luxuria. Aos meus irmãos de diferente opinião ou
inferior classe social impunha humilhações inimagináveis. Violências
gratuitas, impropérios e subornos me mantinham nos mais profundos desvarios.
Era um jovem onde o luxo, bem como os recursos financeiros e minha vaidade,
não tinham limites. As vozes amigas tentavam em vão me alertar e, de mim,
recebiam gargalhadas irônicas de desprezo em troca. Ainda jovem, antes dos
trinta anos, contraí o matrimonio com linda donzela que ascendera, através
da moda, de classes humildes. Não demorei a destruir minha ultima esperança
de ajustamento: o lar. Humilhava minha linda esposa como fosse um objeto a
ser usado das mais diversas maneiras. Suas belas formas fazia-me vê-la mais
como um objeto sensual a qual era sua obrigação servir-me. A infeliz,
sabiamente, deixou-me antes de enlouquecer. Como fuga, aumentei minha
presença em bares, danceterias e bordeis. O objeto era sempre o prazer. O
prazer... quanto mais era melhor. Mas, na medida que eu alimentava meus
instintos terrenos, crescia em mim um vazio inexplicável. Um vazio que eu
tentava calar com as mais diversas companhias. Neste ínterim, tornei-me
intimo de três companheiros. Julio, Marcelo e Carlos. Quase todos na casa
dos quarenta anos, o mundo parecia nosso e deveria ser explorado, os limites
eram facilmente violados com o dinheiro. Carros, mulheres, casas e
apartamentos. A praga do dinheiro não se acabava. E usávamos de tudo, como e
o quanto podíamos. Meus pais se foram sem que eu soubesse a causa. O que eu
poderia sentir de alguma dor ou remorso era facilmente afogado num porre de
uísque. Ao entrar na idade onde o homem verdadeiramente desperta, observei o
falecimento de Julio num acidente automobilístico e o de Marcelo, já
conhecido em algumas delegacias, por overdose. Estas duas mortes me chamaram
a atenção da temporariedade da existência, mas não me entreguei a
preocupações. Eu, Carlos e mais alguns amigos interesseiros demos
continuidade a vida de noitadas, mulheres e desvarios dos mais diversos e
absurdos. Entretanto, uma abençoada doença levou-me ao hospital para tratar
o corpo que não mais suportava tantas injurias. Pulmões, fígado e intestinos
comprometidos. O quadro era grave e algumas semanas num leito de um hospital
me colocam a pensar e refletir. Eu tivera tudo, mas não tinha nada. Bebi no
cálice do pecado por centenas de vezes e não mais sentia prazer algum. O
mundo que antes parecia ilimitado, limitou-se. A vida era limitada. Meus
sonhos ainda eram sensações e desejos eróticos cheios de avarezas e prazeres
de todo tipo que eu parecia não mais poder usufruir. Minhas visitas
resumiam-se a pedidos de uso de minhas herdadas residências e automóveis,
até dinheiro, por parte daqueles que eu chamava colegas. Confesso que nunca
houve votos de sinceridade. Certo dia um médico, após certa bajulação,
devido a minha posição na sociedade, me afirmara que eu poderia ter alta se
observasse algumas regras e restrições. A esperança que ele tentava me
passar estranhamente em nada me animava. Eu era um homem trapo com pouco
mais de quarenta anos de idade e agora com a consciência perturbada. A vida
a fora era um vazio que eu não podia compreender pois já havia de tudo
tentado. Estranhamente falei para ele não se preocupar que estava bem ali e
não tinha pressa em partir. Sabia decisão, ali fiquei por mais alguns dias.
Numa tarde de domingo, um grupo de religiosos entrou na ala que eu estava e
não me negaram comunicação. Após um cumprimento, Silvia, uma senhora de
rosto delicado tocou uma das mãos oferecendo-me uma rosa, recebi sem muito
falar. Minutos mais tarde uma criancinha de olhar doce e angelical, sem
cabelos puxou assunto comigo. Fui levado às lagrimas ao tentar encontrar
palavras para falar de minha vida. Calei-me, mas ela compreendeu. Seu nome
era Gabriel, meu anjo Gabriel. Ele falecera algumas semanas depois, mas me
deixou o maior presente da minha vida. Ele me acordou para o que era
realmente a vida. E, quando Silvia, a senhora de face delicada, retornou
conversamos por horas. Deixei o hospital imediatamente para o abrigo que
aquele grupo dizia sustentar. Esvaziei os recursos financeiros que me cabiam
e tripliquei o número de crianças auxiliadas naquele abrigo dando-lhes
conforto e até atenção. Certo dia, sonhei receber uma flor do meu anjo
Gabriel, foi o momento mais sublime de minha existência. Tempos mais tarde,
numa festa de aniversario, preparada para mim, naquele abrigo que trabalhava
e morava senti o amor, o prazer e a satisfação que tanto procurei na vida.
Sem sucesso tentei conter as lagrimas para não constranger as criancinhas. A
sublimação de meu espírito alcançou limites num êxtase jamais imaginado.
Chorei no colo de dezenas de criancinhas que salvaram a alma de um pecador
que agora conhecia verdadeira felicidade. Nenhum prazer terrestre jamais me
fizera, ou poderia tê-lo feito, sentir sequer um fragmento do que aquela
felicidade que eu sentia ao me doar naquele trabalho. Passado certo tempo,
ao me preparar para uma das aulas de evangelização que eu tentara ministrar,
sob sugestão de Silvia, li em lágrimas a frase do Cristo: "Eu tenho alimento
que o mundo não conhece". Roguei agradecimentos ao Pai e ao divino Mestre
por ter encontrado na caridade o alimento da alma, o prazer infinito do amor
praticado em favor do próximo, a satisfação que não é deste mundo,
temporário e que as traças e a ferrugem corroem. Morri na terra pobre como
um ex-rico, ridicularizado pelos companheiros menos felizes. Chamado de
louco por aqueles que não compreendiam o sentimento que experimentava. Não
salvei ninguém, fui salvo. Compartilhar o teto com crianças abandonadas e
necessitadas de toda ordem curou-me as chagas e alimentou-me a faminta alma.
Acordei num plano onde minhas roupas não estavam mais em trapos, mas sim
brilhantes pelo sol celeste do amor. Enquanto minha visão se clareava vi meu
Gabrielzinho com uma flor nas mãos e os braços abertos. Ajoelhei-me a seus
pés e beijando-os implorei que me enviasse de volta, pois não era digno de
ali estar e tinha trabalho a fazer. Ele me levou para um abrigo onde fui
recebido por pais e mães que achavam me dever algo pela assistência prestada
em terra. E eu, somente me envergonhava da minha vida antes de encontrar
Silvia e meu anjo Gabriel. Trabalho ainda num abrigo sob a tutela de nosso
Mestre e o alimento é abundante."
---
Mais estórias em: http://estoriasespiritas.blogspot.com/
Nenhum comentário:
Postar um comentário