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quinta-feira, 28 de julho de 2011

A estória de Amadeu

Olá meu irmão. Permita-me apresentar-me, nome é Nestor. Vou contar aqui uma estória. Não é mais uma estória de um rico libertino ou um famoso ontem de sucesso mundano. Mas sim, uma verdadeira estória de abnegação e serviço. Como muitos dos vultos que tivemos sobre a Terra, este se trata de um chamamento para o bem. Pois, estejamos certos de que os grandes da eternidade não deixam seus nomes lápides pomposas, estátuas ou revistas de fama. Não os acharemos de pronto ou com poucos esforços, mas ouviremos falar destes em lugares desconhecidos, envoltos a grandes trabalhos assistenciais e morais. Eles se esquivam a todo instante dos elogios ou agradecimentos, mas suas santas obras se desdobram pela espiritualidade e suas estórias estão eternamente gravadas nos raios imperecíveis do éter universal.

Desperdiçamos, por orgulho e ambição, grandes oportunidades de nos renovar e olvidamos os valores que a vida nos apresenta como sustento a cada dia. Os homens estão longe de perceber o quanto suas preces são atendidas e o quanto de bondade emana do Eterno. Ingratos nós que enquanto imploramos a misericórdia e o auxílio, permanecemos no erro com nossa incredulidade e orgulho que repele o ensejo que o Pai entrega nos como atendimento a nosso clamor. Não duvidais, homens que o filho que partiu lhe retorna aos braços nos olhos de uma criança que lhe bate a porta solicitando abrigo ou que a dúvida para uma decisão importante lhe chega através de uma inspiração delicadamente expressada por um ente que lhe atravessa a vista. Assim foi comigo.

Vim ao mundo que hoje conheceis sob promessas erguidas por mim mesmo. E, temendo minhas más inclinações, se mesmo com todos os sinais eu falhasse, implorei aos benfeitores que enviassem um sinal tão forte que fizesse com que a dor sacudisse minhas fibras mais recônditas, a fim de me gritar à alma, como clarim divino, ao chamamento para o caminho verdadeiro. A estória que trago é a do emissário Amadeu. E tentarei, ciente de minha incapacidade, resumir a vida deste grande homem numa já falida tentativa de resumir com palavras o que é amor e o sacrifício.

Nascido na classe média, este espirito surgiu na terra como homem comum, dono de um temperamento controverso mas que no fundo trazia fortes sinais de humildade e fé. Amadeu desenvolveu-se como qualquer menino e trazia no olhar um sentimento de profunda melancolia que procurava abafar com gestos de terna alegria. De aspecto corpulento, fugia de todo exagero terreno. Um sentimento de limite e bom senso o guiava nas mais difíceis decisões da vida.

Crescido sem religião, a morte para Amadeu era um mistério que convidada à dor e a reflexão. Como todo homem, tinha de se submeter às decisões de chegada e partida dos entes queridos que vida impõe a todos. Ao andar nas ruas para dirigir seus afazeres, a visão dos moradores de rua lhe feria profundamente o coração. A miséria humana, a tristeza e o desespero alheio os fazia, ao mesmo tempo, tornar-se cada vez mais feliz por tudo que possuía, sem ter de passar por aquelas duras provações, mas lhe incomodava de forma singular, trazendo grande amargura e incômodo.

O passar do tempo, sem nada produzir, contra aquelas dolorosas visões, o perturbavam profundamente. Como todo homem que possui um confortável leito, acostumamo-nos a separarmo-nos dos miseráveis, dos pobres, dos médios e dos ricos. Dogmatismo da sociedade culpada que ainda hoje nos compele a criar raciocínios de isenção de culpa e consciente inercia.

Amadeu não sabia compreender os sentimentos que lhe chegavam ao peito ao ter de responder ou agir sob o pedido de uma alma desesperançada que lhe pedia dinheiro nas ruas. Em seu intimo, onde misturavam-se repulsa e dúvida e o talhar do tempo junto e a experiência, dava lugar à admiração a estes seres, pela honestidade de não roubar e atitude humildade em pedir. Refletia se a vida era única ou somente mais uma página frente a eternidade. E, se assim fosse, quem ele teria sido no passado? E será que alguém também não lhe estendera o braço amigo? Por que ele recebeu uma família, que não era rica, mas não faltava o pão diário e aqueles seres não? A natureza tendia sempre ao equilíbrio. E, se tudo pendia a uma força maior e permanente, por que as vidas humanas pareciam ser diferentes? Diferentes raças, cores, opiniões, condições e disposições o convidavam a profundas reflexões. Em simples raciocínios, Amadeu, sem mesmo ser apresentado a uma fé religiosa, fez nascer em si a verdadeira fé; a fé simples e pura.

E, num destes dias apressados tal qual a vida nos impõe, surpreendeu-se ao responder negativamente a uma senhora de aspecto sujo e triste. Após rápidos passos na direção oposta, uma grande dor lhe assaltou o peito. Toda sua reflexão veio à tona e, em poucos instantes, foi levado às lagrimas por sua atitude. Secando rapidamente o rosto, correu de encontro à senhora que já seguia entristecida pelo caminho oposto. Amadeu se desculpou pela resposta negativa e ríspida oferecendo alimento e atenção. Aquele dia o transformara para sempre.

Em pouco tempo Amadeu estava envolvido em diversos trabalhos voluntários. Do serviço ao próximo tirava a alegria que sempre buscava sem antes saber onde procurar. Com o passar dos anos, seus trabalhos na seara do bem se expandiam e sua cabeça encontrava o repouso feliz na medida de seus esforços empregados nos dias em nome da caridade. Já não mais sentia vergonha por ter tanto mas, sim, imensa alegria de empregar seus recursos e seu tempo em prol dos que nada tinham. Seu desejo de servir parecia crescer com a carência dos que lhe chegavam. A alegria de cada suor deixado no solo de sua semeadura era fruto de esperança que semeava amor para os que lhe batiam à porta.

Em alguns anos, se realizava o motivo de sua vinda ao mundo dos homens. Erguia-se a instituição de abrigo e assistência aos desamparados. Mesmo sem conhecer os detalhes invisíveis de seu empreendimento físico, no plano espiritual inúmeros trabalhadores se preparavam para o serviço do Cristo enquanto a contra-parte da instituição era alicerçada no plano espiritual.

Sozinho, porém vigoroso, Amadeu recolhia, em maioria, velhinhos e velinhas, jogados ao relento pelas mais diversas causas. Tinha um carinho todo especial a estes seres com tantas estórias e retribuídos por tantos com ingratidão e desleixo. Ainda jovem, não era raro o vermos a negar encontros e festividades que a sociedade comum parecia impor para entregar-se ao pesado trabalho de limpeza, higiene e amparo. Podemos aqui citar uma ocasião onde toda sua família seguia em trânsito para uma festividade e ele, ao passar por um senhor de idade que lhe pedia alimento e ajuda, deixou sujar suas claras roupas para festividade a qual se dirigia para se entregar a mais uma noite de trabalho em nome da assistência imediata. Os familiares seguiram caminho com pensamentos e comentários menos dignos, ressaltando a loucura que assaltava seu parente.

Sexagenário, Amadeu recebe com graça uma doença que o impediria o trabalho. A aposentadoria compulsória era a porta para o serviço integral e grandes desafios, mesmo com baixos recursos. Ridicularizado por amigos e tratado como louco por muitos familiares entendeu que o mundo, infantilizado nas ilusões da matéria, ainda carecia de tempo para entender o real sentido da vida.

Passou a dedicar seu tempo de maneira integral ao abrigo que construira, inclusive, lá vivendo. Seus cuidados, e o local por ele mantido, era tudo para quem nada tinha e provava a mais absoluta necessidade. Cansado pelo enorme esforço físico necessário à manutenção da obra à higiene dos enfermos e dos deficientes, uma preocupação com a educação dos socorridos lentamente lhe chamava a reflexões. Muitos ali, embora necessitados de tudo, ainda eram espíritos embrutecidos e seus cuidados ofereciam regaço e amparo, mas não lhes tranformavam a conduta. Amadeu não buscava reconhecimento ou mesmo esperava sequer um olhar de agradecimento, mas sofria pela falta de oportunidade e recursos educativos. Sua obra parecia uma guerra solitária contra a miséria em todas as suas formas.

Certa vez, num dos quartos coletivos, onde dormia no chão com os inválidos, após a costumeira limpeza noturna, Amadeu desaba em lágrimas, temendo ser de pouca utilidade para àqueles irmãos. Quando, caindo no sono, sente-se leve e a flutuar. Aquela sensação não parecia ser inédita, mas era emocionante e algo parecia iminente.

Numa visão que se clareava lentamente Amadeu vislumbra uma paisagem que, não obstante do mesmo local onde seu corpo físico repousava, desdobrava um ambiente profundamente diferente. O vazio que outrora parecia preencher o espaço agora era tomado por móveis, aparelhos e assistentes em belos trajes. Eram almas agradecidas e trabalhadores iluminados que, ao reparar a surpresa consciente de Amadeu, alguns vinham cumprimentá-lo, outros o reverenciavam. Tocado delicada e carinhosamente no ombro, um ser de elevada estatura e grande luminosidade se apresenta oferecendo um passeio pelo local onde Amadeu já estava acostumado a transitar, mas, agora, frente àquela dimensão extraordinária o passeio era uma experiência totalmente nova e surpreendente. Conduzido com grande ternura pela entidade luminosa, Amadeu percorre emocionado os enormes cômodos do abrigo. O terreno era limpo e estava repleto de espíritos agradecidos que demonstravam grande admiração e respeito. Ao se aproximarem do que ele julgava o fim do estabelecimento Amadeu é convidado a continuar a caminhada, agora, dizia o amigo iluminado; um pouco mais rápida. Eles adentram juntos, numa passagem que inspirava atração e transcendente brilho. Cada passo da caminhada parecia corresponder a milhares de quilômetros e chegam num local de inenarrável beleza. Muito similar a um posto socorrista moderno, uma música e um aroma sublimes penetravam o âmago do espirito de Amadeu que mal conseguia encontrar forças para controlar as emoções. Enquanto caminhava, agora mais devagar e contemplativo, naquela divina instituição, se envergonhava pelo sentimento que havia sentido anteriormente ao se julgar sozinho.

Ao entrar num amplo salão, centenas de vozes iniciam um belo coro enquanto uma entidade feminina de seráfica beleza traz um livro que emana grande luz. A entidade ao se aproximar parece provocar grande sensação de prazer e agradecimento. Uma mensagem telepática é emitida pela vibrante mulher enquanto lhe oferece aquela obra especial. Ele toma o livro com indefinível alegria enquanto todos ali no salão lhe parecem sorrir amavelmente. As emoções são tão fortes que sente dificuldade de sustentar e, subitamente, seu corpo começa a pesar e sofrer uma atração para baixo, despertando em seguida no corpo físico durante a madrugada. Ainda um pouco confuso, Amadeu acorda com o coração ainda tocado pelas maravilhosas lembranças sem saber distinguir se tratava ou não de um sonho. A despeito da memoria que apresentava dúvidas do ocorrido, sentimentos de renovação, força e confiança agora lhe enchiam o coração.

Certo dia uma senhora de semblante muito terno chega-se às portas do abrigo oferecendo auxilio. Ela ouvira falar da obra e achou o trabalho fantástico, informara ela que poderia ajudar em qualquer tarefa num turno todos os dias. Com ela, posteriormente, duas outras companheiras se somaram àquela obra social de grande auxilio. Trabalhadores e recursos cresceram com o passar dos anos. Em dado momento, enquanto Amadeu conversava com outros trabalhadores, revendo o passado, dizia que não se imaginasse tudo aquilo há anos atrás lhe pareceria uma realidade impossível. Uma das senhoras, certa vez, perguntou sobre religião, para a surpresa de todos, ele dizia que ainda não havia se filiado a nenhuma doutrina. Seu objetivo era o bem, assim como o objetivo de toda religião. Àquela altura, conversar com Amadeu era uma lição de amor. A caridade é a verdadeira religião ela, dizia ele, é o amor vivo, o alimento da alma sem o qual nenhum ser humano pode viver. Em outro momento, uma das moças lhe apresenta o evangelho do Cristo. Estranha atração Amadeu sentiu para com aquele livro. Onde já o teria visto?

Amadeu lia diversas versões do evangelho que lhe chegavam. A leitura era inédita, mas nada parecia novo para seu espirito. O dito pelo Mestre parecia já ser conhecido de alguma forma. Ele fazia questão de estudar e meditar profundamente sobre grandes passagens que desencadeavam sábios ensinamentos e traziam refrigério para momentos de preocupação e solidão. Num grande momento de provação ele encontra um suave consolo, uma parte em especial da Boa Nova lhe tocou como nunca: "Enviei meus discípulos como ovelhas ao meio de lobos e vos recomendo que lhes sigais os passos no escabroso caminho. Depois deles, é a vós que confio a tarefa sublime da redenção pelas verdades do Evangelho. Eles serão os semeadores, vós sereis o fermento divino. Instituo-vos os primeiros trabalhadores, os herdeiros iniciais dos bens divinos. Para entrardes na posse do tesouro celestial, muita vez experimentareis o martírio da cruz e o fel da ingratidão... Em conflito permanente com o mundo, estareis na Terra, fora de suas leis implacáveis e egoístas, até que as bases do meu Reino de concórdia e justiça se estabeleçam no espírito das criaturas. Negai-vos a vós mesmos, como neguei a minha própria vontade na execução dos desígnios de Deus, e tomai a vossa cruz para seguir-me. Séculos de luta vos esperam na estrada universal. É preciso imunizar o coração contra todos os enganos da vida transitória, para a soberana grandeza da vida imortal. Vossas sendas estão repletas de fantasmas de aniquilamento e de visões de morte. O mundo inteiro se levantará contra vós, em obediência espontânea às forças tenebrosas do mal, que ainda lhe dominam as fronteiras. Sereis escarnecidos e aparentemente desamparados; a dor vos assolará as esperanças mais caras; andareis esquecidos na Terra, em supremo abandono do coração. Não participareis do venenoso banquete das posses materiais, sofrerei a perseguição e o terror tereis o coração coberto de cicatrizes e de ultraje. A chaga é o vosso sinal, a coroa de espinhos, vosso percurso ditoso da redenção. Vossa voz será a do deserto, provocando, muitas vezes, o escárnio e a negação da parte dos que dominam na carne perecível. Mas, no desenrolar das batalhas incruentas do coração, quando todos os horizontes estiverem abafados pelas sombras da crueldade, dar-vos-ei da minha paz, que representa a água viva. Na existência ou na morte do corpo, estareis unidos ao meu Reino. O mundo vos cobrirá de golpes terríveis e destruidores, mas, de cada uma das vossas feridas, retirarei o trigo luminoso para os celeiros infinitos da graça, destinados ao sustento das mais ínfimas criaturas!... Até que o Reino se estabeleça na Terra, não conhecereis o amor no mundo; eu, no entanto, encherei a vossa solidão com minha assistência incessante. Gozarei em vós, como gozareis em mim, o júbilo celeste da execução fiel dos desígnios de Deus. Quando tombardes, sob as arremetidas dos homens ainda pobres e infelizes, eu vos levantarei no silêncio do caminho, com as minhas mãos dedicadas ao vosso bem. Sereis a união onde houver separatividade, sacrifício onde existir o falso gozo, claridade onde campearem as trevas, porto amigo, edificado na rocha da fé viva, onde pairarem as sombras da desorientação. Sereis meu refúgio nas igrejas mais estranhas da Terra, minha esperança entre as loucuras humanas, minha verdade onde se perturbar a ciência incompleta do mundo!... Amados, eis que também vos envio como ovelhas aos caminhos obscuros e ásperos. Entretanto, nada temais! Sede fiéis ao meu coração, como vos sou fiel, e o bom ânimo representará a vossa estrela! Ide ao mundo, onde teremos de vencer o mal! Aperfeiçoemos a nossa escola milenária, para que aí seja interpretada e posta em prática a Lei de Amor do Nosso Pai, em obediência feliz à sua vontade augusta!"

As lições recebidas do Cristo eram imediatamente colocadas em pratica. Com o passar do tempo Amadeu demonstrou-se um grande sábio. Lidando com habilidade e serenidade a situações diversas. O abrigo contava com dezenas de trabalhadores verdadeiramente interessados. E, enquanto um segundo pavimento era erguido, com destino à expansão de espaço, diversos departamentos constituíam os mais variados ramos de atendimento como: assistência social, atendimento fraterno, auxilio de saúde física, mental e psicológica, evangelização e estudos diversos. De todos os abnegados trabalhadores Amadeu seguia como o mais firme e dedicado, não se permitindo um minuto de descanso, mesmo enquanto os trabalhadores seguiam para seus lares, ele, que residia em sua legada instituição de amor, continuava a servir durante a noite.

A energia e disposição de Amadeu surpreendia a todos, ele se transformara em referência de sabedoria e abnegação, negando para si todos os elogios e entregando ao Cristo. Não apenas seus trabalhadores se dirigiam a ele, mas, até mesmo, outros que ouviam falar de sua amorosa, sabia e humilde personalidade. Eis alguns dos diálogos que exemplificam a sabedoria desta grande alma:

Visitante: Por que você recolhe mendigos na rua ao invés de arranjar-lhes trabalho?
Amadeu: Meu amigo, eles necessitam de tudo. No estado atual quem os empregaria? Preciso antes dar-lhes o pão para ensinar-lhes a buscar o trabalho.

Trabalhadora descontente: Amadeu, alguns velhos são muito ingratos, deseducados e ate mesmo grossos.
Amadeu: Minha filha, pois são estes irmãos que mais precisam de nosso carinho e nossa atenção.

Trabalhador em provas: Não posso mais suportar, é muita pobreza e desgraça. Como você consegue?
Amadeu: O Cristo nos disse que veio para servir. Se Ele, puro, veio e sofreu tudo, ousaríamos nós fazer diferente ou murmurar?

Trabalhador desdenhoso: Que horror limpar tudo isso!
Amadeu: Filho, muitos podem até precisar de dinheiro, mas o mais cruel é faltar-lhes atenção e carinho e é nisso pelo que devemos trabalhar e sempre poderemos dar.

Trabalhador agitado ao entregar mantimentos e cobertas.
Amadeu: Amigo, não te importa em envolver-se caso não lhe agrade. Não leve desânimo a lugar algum. Se não te entusiasma em estender a mão junto a tua oferta, deixa-a ai. O excesso de adorno fere e a pressa fria magoa.

Fanático Religioso: Você, que recolhe mendigos na rua acha isso certo? Que religião manda você fazer isto? Todos tem o direito de estar nas ruas.
Amadeu: Certamente meu irmão, eles tem tal direito, por isso mesmo estão aqui de livre e espontânea vontade. Quanto à religião, o que é esta senão um caminho para o bem, para Deus? Não estou sob uma bandeira que me impõe serviço, faço por que sei. E o que é a religião senão uma linguagem para falar do mesmo do trabalho para Deus?

Trabalhador cansado: Irmão Amadeu, como superar tantas dificuldade e educar tantas almas endurecidas?
Amadeu: O que o senhor espera de nós é perseverança. Toda oportunidade de servir é uma benção. E todo tipo de trabalho honesto é útil e merecedor da atenção dos planos superiores.

Amadeu se destacava pela inteligência, habilidade e serenidade no trato das mais diversas situações. Se no plano material ele parecia um ser alquebrado onde o tempo se demonstrava impiedoso. No universo espiritual paralelo, podia-se ver o radioso halo a pairar sobre sua cabeça. Seu corpo, segundo olhos físicos, que se apresentava alquebrado pelo tempo, no campo astral denotava notória elevação num brilho áurico que ansiava por expandir-se.

Certa feita, durante a madrugada, o abrigo é visitado por um rapaz equivocado em suas intenções. Despertado pelo som do meliante que adentrara o ambiente Amadeu surpreende uma figura esquálida a procurar objetos valiosos. Antes que ele pudesse indagar algo ao rapaz, esse alça a mão em sua garganta vociferando: "onde está o dinheiro? Cadê os objetos de valor daqui? Amadeu, sem alterar-se e num esforço para respirar, procura falar ao rapaz, que afrouxa a destra do pescoço do bom velhinho dizendo: "Meu filho, de valor somente há os que aqui trago." O jovem, contrariado, passeia o olhar no ambiente e, sem nada encontrar de valor, diz: "Mas que casa é esta afinal? Que espécie de maluco aqui mora? Não vou sair daqui sem nada." E Amadeu, carinhosamente, lhe diz: "Sem nada jamais saímos de lugar algum. Você vir a este local fora providencial, tens algo aqui a realizar." O jovem, por um momento, balança durante aquela afirmação inspirada. Como que desarmado, procura ordenar as ideias diante daquelas frases que convidavam a tantas reflexões imediatas. Amadeu, como que observando o jovem hipnotizado, convida-o a um passeio pelo local. O intruso parece atender maquinalmente aquele convite tão natural.

Curiosamente, se direcionam a um leito e, ao passar, o jovem esbranquiça. Agora, de aparência como que desesperada eleva as mãos a cabeça e, em voz alta, repete algumas vezes: "Não, Não!" De pernas fracas, se aproxima de uma singela cama onde repousava uma senhora idosa e muito fraca, exclamando: "Mãe, mãe, mãezinha, mãezinha minha! Meu Deus!"

Após algumas horas, sem se afastar do leito da materna enferma, o jovem, em pranto compulsivo, resume sua estória: "cometi muitos erros na vida, mas abandonar minha mãe foi o pior de todos. O arrependimento que tentava me dominar era por mim canalizado em ódio pela sociedade. E, num dia, numa crise de dor, gritei a Deus que se Ele trouxesse minha mãe de volta eu o Perdoaria. E aqui estamos. Oh meu Deus, meu Deus!" Amadeu, embora também emocionado, procura consolar o pobre rapaz dizendo: "Filho, todos os dias são recomeços e novas oportunidades. A dádiva que recebe hoje lhe oferece resgate imediato e representa remissão para com a sua sofrida consciência. Alegremo-nos com o que nos é ofertado por misericórdia e trabalhemos na causa do bem e da caridade. Venha, vou mostrar lhe o local e preparar-lhe um leito ao lado de sua mãe."

O jovem, totalmente transformado, caí em lágrimas aos pés de Amadeu rogando-lhe perdão. Amadeu não hesita e ternamente, levantando-o e enxugando as lagrimas, lhe diz: "Meu jovem, levanta-te, também sou homem e, assim como você, estou aqui para servir. Se achar que dever ajoelhar e agradecer faça-o ao Pai." O jovem, de nome Nestor, renova-se a cada dia e torna-se um dos mais fieis trabalhadores da casa. É através dele que o trabalho de Amadeu toma continuidade e ganha estória.

Certa manhã, Amadeu desperta diferente. Um silêncio curioso lhe chama a atenção. Nestor, que se abrigava junto do bondoso velhinho, também desperta e, preocupado, procura assisti-lo. Educadamente dispensado pelo ancião, Nestor voltar a dormir depois de acompanhar Amadeu percorrer os leitos acariciando cada um dos abrigados com amável sorriso. Uma sensação de paz lhe traz uma certa ansiedade no porvir. Minutos mais tarde, ainda pela manhã, cumprimenta a todos em tom diferenciado, como se não parecesse possível; ainda mais terno. Embora carinhosamente rechaçado, transmite instruções de continuidade do lugar, de disposição e sugestões para o futuro.

A tarde, uma jovem senhora entra no recinto pedindo ajuda para um parente que não pode mais se levantar e queria instalá-lo ali. Amadeu atende. Nestor oferece para acompanhar, mas os afazeres imediatos o impedem. O jovem pega o endereço e informa comparecer em breve no local para ajudar na remoção do senhor que aguarda. Amadeu segue com a senhora procurando tranquilizá-la durante o caminho. Colocam-se a subir um íngreme aclive não muito longe do abrigo. Amadeu encontra dificuldades para chegar ao local, dada a necessidade de vigor físico para o vencer o platô. A senhora, indica a casa e, enquanto Amadeu entra, ela diz que procurará mais ajuda para o transporte e coloca-se em outro caminho.

Amadeu entra na humilíssima choupana de dois cômodos e repara um homem muito idoso e enfraquecido num leito de palha. Suavemente, tenta despertar o senil que acorda cumprimentando-o. Amadeu lhe diz ao que vem e o homem responde: "Ah sim, vamos visitar vosso abrigo não é mesmo? Mas não sei bem, eu estou de partida." Amadeu, como percebendo um senhor já com a mente debilitada deixa-o falar sem interrompe-lo. "Pois é meu filho, não vou aqui me demorar. Mas podemos ir. Somente preciso avisar ao meu senhor que me ausentarei por alguns instantes. Você o conhece? Ele é alguém incrível. Sem ele eu nada seria. De todos que aqui vem poucos o compreendem. E você veio. Deus o abençoe." E, apontando para a porta fechada que dividia o cômodo próximo, diz: encontre-o. Já que aqui está, vá, avise-o que estamos indo. Você vai ama-lo!"

Neste momento Amadeu olha para a porta como a procurar alguém. Mas uma estranha sensação parece lhe dominar a alma. Uma curiosa atração envolta a um magnetismo de irresistível interesse parece lhe chamar naquela porta. Amadeu ergue seu calejado corpo com dificuldade, ainda cansado pelo esforço dispensado no caminho, e dá alguns passos vacilantes para uma velha porta de madeira. Quando a voz sussurrante do enfermo parece exclamar com grande ternura e deixar as palavras ao vento: "Senhor, Senhor...". Amadeu volta-se para leito e nada mais vê! Não tem tempo de ficar surpreso pelo desaparecimento repentino do velhinho que mal podia se mexer. Confuso, volta-se a para a porta que parece se clarear e esconder algo intensamente brilhante por detrás.

Lentamente ao abrir, procura, diante da curiosa e abundante claridade que parece irradiar daquele o segundo cômodo, distinguir a figura de um homem de pé. Acreditando tratar-se de um problema da saúde ou ocular, Amadeu esfrega os olhos procurando afastar qualquer dificuldade que poderia subitamente explicar aquela visão inexplicável. Quando surge, agora mais nitidamente a figura de um homem ainda moço, que deixava transparecer nos olhos, profundamente misericordiosos, uma beleza suave e indefinível. Cabelos e barbas modestamente longos e sedosos cabelos destacando o semblante compassivo, como se fossem fios castanhos, levemente dourados por luz desconhecida. Um sorriso extremamente terno revela, ao mesmo tempo, intensa bondade e energia. Seu rosto de traços perfeitos, irradia da sua melancólica e majestosa figura uma fascinação irresistível.

Uma curiosa força arrebata-lhe as forças nas pernas fazendo-o maquinalmente os joelhos desfalecerem, prostrando Amadeu diante daquela encantadora criatura. Sem muito compreender a situação que se passa e em empenhado na tarefa de servir Amadeu tenta inutilmente colocar-se de pé para ouvir no que poderia ser útil. Quando, como uma criança que não compreende o que se passa e ainda de joelhos, procura olhar nos olhos daquela figura singular.

Seus olhos, ao encontrarem os daquele homem, inundam-se imediatamente de lágrimas que não cessam de abundantemente escorrer. Uma sensação nunca antes sentida lhe visita o coração transmitindo paz e esperança como que encontrado um poço de inesgotável felicidade. Amadeu está chocado enquanto procura nos escaninhos da memoria onde teria visto aquele ser que o velhinho anterior que subitamente desaparecera chamara de Senhor. Quando este lhe diz em tom de uma ternura e autoridade nunca antes por ele ouvido: "Filho. Tive fome e me deste o que comer, tive sede e me deste de beber, era forasteiro e me acolhestes, estava nu e me vestiste-me, adoeci e me visitastes, estava na prisão e me visitastes."

Amadeu, magnetizado e dominado por aquele ser, elucubra explicações físicas para aquele momento extraordinário. Porém, analisando aquela situação, não consegue crer naquilo que ocorre. Quando o homem, num gesto de pura bondade, sustentando-o suavemente pelos braços o ergue lentamente do chão. Neste momento, o tempo parece se suspender e Amadeu repara vários andares de camadas distintas são velozmente vencidas diante de seus olhos. E a figura daquele O qual não mais podia lhe confundir lhe rende um amável sorriso face a face lhe dizendo: "Amadeu, filho amado, serviste bem teu Senhor entra agora na glória que lhe pertence."

O cenário ao redor deles se descortina revelando indescritível beleza e uma plateia de sublimadas entidades que parecem felicitar aquele momento. O qual Amadeu, humildemente, reconhece tratar-se da despedida do plano terrestre. As sensações de alegria em sua expressão absoluta são imediatamente vividas dando lugar a um júbilo incessante e, O Mestre, como que deixando cair a roupagem física da qual se utilizara anteriormente manifesta agora o brilho radioso de sua personalidade espiritual que penetra o espirito de Amadeu despertando em seu ser a mais poderosa e pura felicidade. Juntos, alçam voo para esferas resplandecentes.

Sua obra continuou e, junto ao Cristo, fornecem ainda hoje o alimento mais precioso para sua continuidade da caridade no coração de todos os servidores abnegados: a inspiração. Seus trabalhadores, apos sua desencarnação, não permitiram que o desânimo, a tristeza, a dificuldade ou a saudade se instalasse, seguiram em frente e dão continuidade ao trabalho começado por Amadeu, mas estendido como caminho de luz que liga a terra aos planos felizes. Pois é no amor e sua ação em movimento; a caridade, que vencemos as ilusões e despertamos.

Meu nome é Nestor e deixo aqui minha estória, não para atestado histórico, ou homenagens, mas para convite à reflexão daqueles que receberem esta simples mensagem de que acima de todos reina a verdade imutável. E que o mais humilde e simples na terra pode ser um dos maiores no reino dos céus. Reencaminhei minha vida ao bem, beneficiado pelo grave aviso de dor que solicitei antes mesmo de vir ao mundo e deixo a pergunta à reflexão dos amigos em vida na terra: necessitamos mesmo esperar a dor para iniciarmos nossa renovação?

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Mais estórias em: http://estoriasespiritas.blogspot.com/

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Testemunho de um Abortado

Meu nome é Ângelo, fui pai de uma linda menina, Matilde. Em acordo com a
providência divina me desliguei da matéria antes da plena maturidade de
minha querida filha. Após recuperação pós-encarnatoria em local apropriado
da espiritualidade, fui beneficiado em poder participar da assistência à
minha Matilde. Chorei e sorri junto com ela durante anos, às vezes ela até
mesmo percebia minha presença por meio de uma suave lembrança. De fato,
infelizmente, nunca a ensinei noção alguma de espiritualidade. Com o passar
do tempo, me senti inútil ao seu lado por perceber que pouco podia
contribuir na solução de seus conflitos e dilemas. Minha perturbação, pela
minha incapacidade e inutilidade, passou a interferir nos problemas de minha
querida Matilde. Em breve tempo, eu sofria tanto com o sofrimento dela que
não foi necessário que um dos assistentes me sugerisse deixar o grupo de
benfeitores para me recolher em benefício dela mesma. Na colônia, eu teria
chance de preparo para um dia ser realmente útil. Assim, em lágrimas, o fiz,
porém, sabendo que retornaria o quanto antes, habilitado a auxiliá-la.
Participei de cursos, palestras, estudei sobre a psique humana, lei de causa
e efeito, energias, passes, corpos e outros assuntos. Aos poucos me
reintegrava ao mesmo grupo de auxiliadores, desta vez, já muito mais
preparado. Minha presença ao lado de Matilde era um poder de auxilio latente
em iminência de desabrochar quando necessário. Disseram-me que em breve eu o
faria em intenso gênero. Matilde atravessava um relacionamento difícil,
motivado por estas paixões terrenas que somente podemos compreender o quanto
são vans quando estamos de fora. Não tardou a se perder em decepções e
lamentos. Como solução, ela se embalou em um novo relacionamento, a imaginar
um remédio salutar à ferida aberta do último encerrado. O contato com o novo
irmão, que se apresentava candidato a seu coração, se intensificou de forma
descontrolada e apressada, ponderei cada atitude e pensamento meu. Tentei ao
máximo, junto dos irmãos auxiliadores da família e da célula de apoio ao
bairro em questão, prestar todo o apoio e influência positiva que nos era
permitido. Em determinado momento fui chamado à espiritualidade,
subordinei-me ao chamamento com certa estranheza, já que estávamos em meio à
grande operação de assistência. Em nossa colônia, recebi num júbilo
inenarrável que Madilde em breve momento seria mãe. Imediatamente captei que
aquele chamamento se tratava da oportunidade de assistência absoluta
anteriormente preconizada. Eu estaria ao lado de minha Matilde, embora
embalado em seus braços por breve período, seria seu amigo mais fiel para
com todas as suas fases difíceis. Dispensaria todo o carinho necessário para
secar-lhe todas as lágrimas e cultivar o sorriso do amor em sua expressão
mais absoluta. Minha mente se perdia em laços imaginativos tocados de
profundo afeto, desejo e satisfação. Minha emoção e ansiedade somente
poderiam ser superadas pela minha grande amizade, gratificação e promessa de
empenho. Eu seria o filho em corpo o pai mais preparado. Seria a ligação
esperada naquela família que outrora cultivei tanta afinidade. Minhas
lágrimas de júbilo, ansiedade e emoção embalavam grande apreensão em
Matilde. Por vezes fui carinhosamente repreendido pelos técnicos
reeencarnacionistas para que me abrandasse de modo não prejudicar minha nova
forma. Disseram-me que fui um dos casos mais agitados e que, sem dúvida,
transmitiria grandes movimentos ao meu corpo ainda em formação. Matilde, em
poucas semanas, já sentiria um amor tão grande e sublime que me protegeria.
Em determinado momento, nossa afinidade, já abençoada pela ligação material,
seria tão intensa que ela no inicio não saberia explicar alguns sentimentos
que lhe chegariam. Tudo estava tão belo, eu podia ainda ouvir a melodia
calorosa do reino espiritual de Deus e sentir cada pensamento de Matilde
cada vez mais vibrante em mim. Estava tão perto que era capaz de captar suas
palavras, emoções e até toques. Absorvia suas idéias e já podia também
transmitir minha força, coragem e fé. As dúvidas e os medos de Matilde
cresciam e eu os alimentava com ânimo, amor e perseverança. Em determinado
momento senti ligeiro desconforto que eu ainda era capaz de responder com
pensamentos positivos. Nossa ligação ficava intensa, cada vez mais forte,
não importando onde estivéssemos. Matilde cultivava pensamentos que pareciam
neutralizar os meus. Mas aquilo era novo para nós dois, não tinha todas as
respostas, pobrezinha. Estranhamente, eu estava sendo cada vez vencido por
algo. Quando o processo de encontro à matéria deveria se fortificar eu via o
mundo espiritual novamente, cada vez mais preciso, algo estava errado.
Preocupei-me, embora me esforçasse para isso evitar, era difícil, tudo
estava mudando, desmoronando, sentia auxilio, mas não podia largar Matilde.
Minha mente estava confusa, distorcida, meu corpo, gelado num local que se
apresentava agora desconhecido, silencioso, num meio de caminho que eu não
conhecia. Meu coração era apresentado a regiões que eu não deveria estar. Eu
estava me perdendo, o calor se transformara em gelo, a certeza em dúvida e a
alegria em lágrimas. Domei-me para não transformar o desejo de assistência
em obstinação desenfreada. Ouvia chamados que sabia não dever ouvir, sabia
de onde vinham, mas tinha noção que guardavam uma notícia dolorosamente
terrível. Mas não podia mais postergar, tinha certeza de que a assistência à
Matilde estava perdida. Não sabia se para sempre, mas se eu não seguisse o
chamamento daqueles que sabia serem amigos seria mais doloroso até mesmo
para ela. Foi quando pedi ao Pai Supremo conselhos. Assim como minha
lembrança se esmaecia, pensei no amor, na fraternidade, no desejo de ajuda,
mas precisaria, por hora, abandonar o projeto e as idéias. Com grande dor,
foi iniciado o desligamento material, senti como se abandonasse um pedaço de
matéria já tão querida, a qual já tinha grande desejo, sequioso estar
presente, mas que não mais tinha condições de animar. Fui atendido,
demorei-me a novamente adentrar o mundo que eu deveria temporariamente
deixar. O grandioso projeto de apoio a Matilde estava abandonado. O que
seria dela agora? Todo o empenho, amor e a dedicação foram vencidos pela
dúvida e pelo medo. Chorei muito me culpando de não ter sido capaz de
injetar coragem suficiente em nosso elo. Fui rejeitado na carne, mas sei que
em breve momento talvez possa novamente tentar, não sei. Até lá espero,
assisto como posso, não mais tanto quanto antes. Minhas lágrimas pela
rejeição aguardam recuperação para voltar a atuar, mesmo de longe. Como se
uma ferida ainda demorasse muito a sarar. É uma marca que carrego por
tentar. É uma dor de lamento e nada mais. Deixo então o recado aos irmãos
que somente enxergam o lado material da vida e ainda cogitam este ato.
Fiquem na Paz.


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domingo, 19 de setembro de 2010

As lágrimas

O pequeno jovem, muito triste, se recolhe em secreto e começa a orar. Não
demora a perceber uma reconfortante presença a irradiar em torno de si. As
lágrimas se tornam mais intensas quando ele indaga ao convidado ilustre o
porquê de tanto sofrimento no mundo, nos animais, na flora e como os seres
humanos podem ser tão cruéis. A entidade manifestada, que transmite um
sentimento de profunda paz e esperança, lhe diz numa voz suave e tranqüila
dentro da mente: "Filho, o sofrimento atualmente neste mundo é a principal
alavanca do progresso. É o convite a reforma intima e o chamamento
correcional. Algumas vezes a pá precisa fincar na carne para arar as
mudanças necessárias." O jovem reflete por alguns segundos e lança nova
pergunta: "Mas por que deve ser assim? Deus não poderia intervir?" A
entidade responde: "Filho, acredita ser Deus perfeito? Não é este um dos
atributos conhecido da divindade? Aceite mais no lugar de julgar. Deus
balança mérito com esforços e auxilio com justiça. As leis estabelecidas por
Ele são justas, tenha fé nisto. Tudo tem sua causa e seu porquê. Em verdade
lhe digo que muitos só podem conhecer a misericórdia do Criador através da
dor. Para o homem de bem a dor já é estar encarnado. Para os ainda
embrutecidos, só há dor quando há violação da lei de Amor,
institucionalizada no trono eterno do pai mas, ungida na justiça. Muitas
vezes é necessário aos homens conhecer o extremo do sofrimento para adentrar
novamente à estrada do progresso. Observe as mudanças no mundo, o
adolescente rebelde de hoje pode ser o pai amoroso de amanhã. Muitos idosos
que ontem foram algozes ou mártires hoje se calam implorando auxilio mudo a
corações piedosos, se inclinam e rogam bênçãos silenciosas a irmãos
dedicados a cuidarem de seus corpos frágeis e sua higiene pessoal. As vezes,
o pastor utiliza cães, que precisam fincar os dentes nas ovelhas, para
trazê-las de volta ao rebanho." O jovem, compreendendo aos poucos pergunta
ainda mais uma vez: "Então todos aqui passarão pelo sofrimento?" A entidade
completa: "Pode existir alegria soberana em meio a dor? Enquanto aqui, na
sob as ilusões da matéria, os homens tem a chance do grande progresso.
Ignorar o trabalho e a mensagem, se entregando às falsas alegrias, é o que
ele chamará de sofrimento no futuro e, nós; de reforma. Filho, não sofra com
o sofrimento. Se sofrerdes com o sofrimento alheio a quem espera fazer o
bem? Como espera levar alegria se já chegas com tristeza? A vida sem
sofrimento é inócua. A dor é o fogo que modela o bruto metal para
futuramente reluzir. Quanto a seus relacionamentos, reflita bem se suas
decepções com as pessoas não teve causa na superestimação das qualidades por
você supostas, logo, o erro é seu. Mesmo aqueles que lhe amam vão lhe magoar
vez ou outra e precisa perdoá-las por isso, afinal, há perfeitos andando em
seu meio? Sobre as pessoas do mundo, o bruto de hoje é o benfeitor de
amanhã. Quando olhardes para alguém, não veja o ser em suas atitudes
lamentáveis, mas sim, o ser divino, ainda perdido da estrada para o
desabrochamento. Lance-lhe o convite do amor, do perdão, seja modelo e
surpreenda-os com atitudes benevolentes. Não sofra tampouco se reprima por
comentários cruéis. O remédio só arde quando bate na ferida aberta, se não
foste tu a sofrerdes por que choras? Se tu choras pelos outros, suas
lágrimas são abençoadas. Se chorares pelos seus próprios erros, reflita,
desculpe a quem injuriou e tenha fé no progresso. Lágrimas derramadas com
resignação são acolhidas pelo Pai que vê sempre o sofrimento do filho que
não revida.

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sábado, 21 de agosto de 2010

Conflitos Biblicos?

Humberto, cada vez mais interessado em se aprofundar naquela ciência,
questiona agora algumas passagens bíblicas que parecem conflitar com a
doutrina: "Bom, senhor, muito estão me sendo esclarecedoras estas
elucidações e vejo o quanto preciso estudar para nosso afetuoso debate.
Porém, já tomando como objeto de estudo, gostaria, para terminar, que me
comentasse alguns pontos que parecem discordar de vossa doutrina perante o
próprio evangelho que vocês também tanto se baseiam e pregam. Cito aqui
algumas passagens que conheço e apreciaria muito que me as comentasse:

1- O Inferno;
2- Proibição de Evocar os Mortos;
3- Demônios e Satanás;
4- Penas eternas;
5- O Espírito Santo;
6- O Cristo disse: Ninguém vem ao Pai senão por mim;
7- Reencarnação perante Abel a Caim;
8- Ressurreição;
9- E o homem só vive uma vez;
10- Fora da Igreja não há Salvação;

O Dirigente, com extremada alegria, retoma a palavra: "É um prazer poder
falar sobre estas coisas e ótimo dissipar a desinformação. Para dar crédito
a uma obra é preciso conhecer seu autor. E para evitar incorrer em erros e
render-se a subjugação do fanatismo é preciso apurada razão. A fé cega e
irracional é o mal de muitas tragédias, pois a fé sem raciocínio leva
somente a dois caminhos: a incompreensão ou ao fanatismo. Como diz Kardec:
"Somente a fé inabalável pode enfrentar a razão face a face, em todas as
épocas da Humanidade." Desta maneira, cabe ao interpretador de hoje, munido
de bom senso, pesar cada afirmação no crivo da razão para que, refletindo
sobre cada frase, retirar o verdadeiro ensinamento.

O Cristo ajustou e completou a lei de Moises, assim o espiritismo, que é o
Consolador prometido pelo próprio Cristo, faz com as religiões atuais. E,
como era de se esperar, assim como foi na época do surgimento do
cristianismo, sofre preconceitos, ataques e difamações. Mas é com o
questionamento que dissipamos o desentendimento e com razão, estudo e boa
vontade que compreenderemos as verdades.

Bom, como falei no início, é preciso alicerçar-se em base sólida, da mesma
forma como é todos sabido que os evangelhos foram traduzidos e adequados
através do tempo. Portanto, com a bússola do espiritismo, unida a razão,
podemos retirar o verdadeiro ensinamento do Cristo. Vou então tentar
explicar os pontos por você levantados segundo a nossa doutrina:

1- O Inferno: se quiser pensar que há um lugar para os maus ficarem que
assim seja. Porém a condenação eterna contrariaria alguns dos maiores
atributos de Deus: Bondade e Misericórdia. Seria o Pai capaz condenar
eternamente suas criaturas? Negar auxilio ou reconciliação? Deus amaria
menos um homem a que um pai que perdoa o erro do filho?

2- Proibição de Evocar os Mortos: A lei mosaica condenava a evocação fútil
dos desencarnados. Geralmente, os rituais de evocação da antiguidade
possuíam caráter diverso e espíritos inferiores se divertiam com as
confusões por ele geradas durante as evocações frívolas. O espiritismo adota
também esta proibição como advertência e que os Espíritos devem ser evocados
em nome de Deus, em caráter de auxilio ou instrução.

3- Demônios e Satanás: Existiria criatura tão poderosa quanto Deus? Ou Deus,
todo poder e bondade, irado, rebaixaria e exilaria eternamente um de seus
filhos? A idéia de anjo, ser perfeito; Perfeito, compreendeis bem esta
palavra? Cairia? A lei do progresso é única e aplicada a todos, sem exceção.
O caminho ao arrependimento e resgate está sempre aberto.

4- Penas eternas: Nos evangelhos encontramos as palavras fogo e eterno,
dentre várias outras. Lembro aqui, novamente, que a tradução através dos
tempos faz muita diferença, especialmente quando palavras trazidas de
figuras de linguagem ou de antigas línguas pobres de palavras. Ao analisar o
todo da obra, podemos ver a incoerência de uma condenação eterna. O Deus da
antiguidade que não perdoa, que se nega ao pedido de redenção e despeja ira
àqueles que desrespeitam suas vontades, desaparece ao passar dos milênios.

5- O Espírito Santo: Em algumas passagens podemos ver a citação Do Espírito
Santo ou O Espírito Santo. Por que não haveria de haver mais de um Espírito
Santo? A tradução bíblica mais uma vez leva a um entendimento errôneo se
lermos O Espírito Santo ao invés de Um Espírito Santo.


6- O Cristo disse: Ninguém vem ao Pai senão por mim: Jesus, empossado de sua
autoridade Crística proclama esta magnífica afirmação. Ou seja, que não há
outro caminho à felicidade celeste senão ser Cristão. Compreender e, acima
de tudo, praticar o que o Cristo nos ensinou é a porta que nos leva ao Pai.

7- Reencarnação perante Abel a Caim: a ciência já não demonstrou que estão
figuras são mitológicas? Cabem argumentos diante das evidencias?

8- Ressurreição: Mais uma vez temos emprego errôneo das palavras. A
Ressurreição da Carne, foi um dos milagres praticados por Cristo, como o de
Lázaro e até mesmo Ele próprio. Mas que não deve ser empregado em caráter
comum. Na época do próprio Cristo o conceito de Reencarnação era
compreendido por alguns doutores da lei e foi divulgado pelo Jesus aos
homens. Porém, quando Roma incorporou o Cristianismo para suas crenças
ritualizando, dogmatizando e caçando os fiéis que se mantinham ligados aos
verdadeiros ensinamentos do Cristo, efetuou as modificações que lhe
convinha. Vemos muitas delas no Concílio de Niceia, negando e alterando a
verdadeiras idéias Cristãs que intermediaram a mensagem do Cristo aos
homens.

9- E o homem só vive uma vez: A afirmação está correta para o homem
encarnado. O corpo, instrumento único e perecível, que fornece ferramenta
para a interação no meio terrestre, não retorna à vida.

10- Fora da Igreja não há Salvação: Esta é uma afirmação do homem, motivado
por interesses e cercar-se de fiéis como o único dono da verdade. O
espiritismo não prega que fora dele não há salvação, nem assim poderia se
dar. A verdadeira mensagem que poderia ser dita por nós, segundo os
ensinamentos do Cristo seria: Fora da Caridade não há salvação. Logicamente,
entendendo o verdadeiro conceito de caridade, o que muitos, erroneamente,
associam a dar esmolas ou contribuir com o que não lhe é mais necessário.


Obviamente, o que eu disse são idéias incompletas e é de suma importância
que o interessado pesquise, estude, reflita e questione." Humberto, com
terno sorriso e tocando carinhosamente no ombro do dirigente lhe fala:
"Curioso como quando saímos do mundo de idéias e conceitos pré-concebidos,
ou melhor; pré-conceitos, que nós mesmos criamos como verdades absolutas e o
despertar nos abre um leque de possibilidades, interpretações e raciocínio.
Estranho como nunca questionei algumas idéias que simplesmente me foram
impostas sem permitir maiores esclarecimentos. Mas sei que hoje o acesso a
informação possibilita o homem ao estudo e ninguém mais poderá dizer que
desconhecia. O livro que me falaste foi: "O que é Espiritismo", certo? "Pois
bem, apreciarei a leitura deste."

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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Afinal, o que é ser Espírita?

Humberto volta a questionar o dirigente espírita: "Então, afinal, o que é
ser Espírita? E por que os espíritas se diferem tanto em suas idéias e atos?
Vejo alguns nos chamados terreiros como pais de santos, outros praticando
sacrifícios de animais e já até mesmo ouvi alguns que acreditam que hora
podemos reencarnar na forma humana e depois animal." O dirigente, com tom
sério de lamentação corrige Humberto serenamente: "Não Humberto, não é isso.
Assim como nas demais religiões, não devemos esperar seguidores perfeitos,
tampouco proclamadores coerentes com a doutrina. Neste mundo, seja onde for,
não há modelos precisos, seria pretensão nossa acreditamo-nos privilegiados.
Infelizmente há os ditos espíritas que assim se dizem por somente aceitarem
alguns poucos conceitos da doutrina. É importante o questionador saber
separar conceitos de crenças e idéias de doutrina. Muitos ensinamentos
espíritas não são novos e já eram aceitos e praticados em outras crenças. Já
outras religiões, talvez por falta de adequação ou divulgação, resolveram
aceitar somente o que lhes convinha, manifestando-se espíritas, destoando e
distorcendo as verdadeiras idéias da doutrina codificada por Kardec. Vale
ressaltar a importância de o questionador conhecer demais religiões, dogmas
e crenças para melhor se situar, até mesmo dentro das afirmações de falsos
espíritas. A Umbanda, o Candomblé, o Hinduísmo, o Budismo, o Islamismo,
dentre outras crenças e religiões, por exemplo, possuem pontos comuns, mas
nem por isso são idênticas. Então, respondendo sua pergunta, tomo a
liberdade de citar a frase do codificador acerca do que falei: "Reconhece-se
o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que
emprega para domar suas más inclinações." Humberto fica pensativo e diz:
"Profunda a frase. E vejo que preciso estudar para debater. Peço que me
perdoe à insistência e, mesmo ainda conhecendo superficialmente o
espiritismo, aventuro-me em mais questões. Ouvi falar de grandes fenômenos
como movimentação de objetos, os ditos médiuns que falam outras línguas,
materializações e outros eventos notáveis, mas que nunca chegam a público.
Não seria mais fácil e rápida a conversão se tais fenômenos ocorressem em
público?" O dirigente explica: "Embora todas as questões já tenham sido
respondidas nas obras do codificador, especificamente em: "O que é
Espiritismo", vou me aventurar em tentar respondê-las. A estória da
humanidade sempre foi cercada de fenômenos extraordinários nem por isso
todos os homens se converteram. O dito sobrenatural sempre beirou o homem
encarnado, porém nem assim ele se rendeu às evidencias. Logo, mesmo a
experiência, o conhecimento e a comprovação de alguns não induziriam ninguém
a uma verdade, fosse ela qual fosse. Então, para concluir minha infame
tentativa, deixo mais uma frase de Kardec para você refletir: "A fé
necessita de uma base, e essa base é a perfeita compreensão daquilo em que
se deve crer. Para crer, não basta ver, é necessário compreender." Humberto,
medita por alguns instantes sobre as últimas informações. E, novamente, faz
outro questionamento: "E os ditos feiticeiros, magos, jogadores de tarot,
búzios e afins?" O dirigente responde: "Estes menos ainda tem a ver com o
espiritismo que os primeiros. É preciso analisar os princípios básicos e os
métodos recomendados para se evitar este tipo de associação equivocada. Aos
estudantes da doutrina são ensinados vários meios para se reconhecer o
verdadeiro espírita. Embusteiros e interesseiros não somente em nada se
relacionam com o espiritismo, como devem ser evitados. O trabalho
desinteressado, o desejo da fraternidade universal e amor incondicional são
as verdadeiras marcas do espírita cristão. E, se pensas que há de achá-los
facilmente, engana-se. O verdadeiro espírita é brando, simples e humilde de
coração. Pratica o evangelho no limite de suas forças e foge de todos os
elogios fazendo o bem pelo bem, sem qualquer interesse em agradecimentos ou
elogios."


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domingo, 15 de agosto de 2010

Afinal, O que é Espiritismo?

Humberto, homem letrado e religioso, estava a conversar com um dirigente
espírita habilidoso. Humberto não concordava com o espiritismo, porém,
educado e questionador, não atacava, mas se interessava em sadiamente
debater idéias. Pergunta ele ao dirigente: "Afinal, o que é Espiritismo?
Vejo esta doutrina, que não é ciência nem religião crescer assustadoramente,
acolhida, em maioria, pelos de maior escolaridade. Certa vez ouvi de um
estudante que o espiritismo não obriga ninguém a crer nele, tampouco condena
quem não o segue. Mas motiva a transformação moral de cada ser, não
importando sua a religião. Aquela informação me despertou a curiosidade,
pois nunca ouvi nada parecido de outra religião." O dirigente, chamando
Humberto a sentar-se com ele, entra numa agradável e inspirada dissertação:
"O espiritismo é o Cristianismo em sua versão mais pura e cristalina. É o
convite a reforma moral e ao trabalho assistencial. Foi necessário surgir
segundo a ciência para tomar a razão como alavanca, sustentando-se em
raciocínio e fatos. Se o Cristo não disse todas as verdades foi porque
julgou, naquela época, deixá-las veladas. Vamos tentar analisar alguns
pontos que algumas pessoas, sem sequer darem-se ao trabalho de conhecer,
atacam. Reparemos, inicialmente, na historia do próprio Cristo, o messias
havia sido profetizado e previsto. Os vaidosos, orgulhosos e sabichões o
aguardavam como um poderoso rei, capaz dos mais majestosos prodígios,
nascido sob festas e berço dourado. O profeta, por eles esperado, somente se
relacionaria com os de sua classe, condenando e desprezando os simples,
pequenos, pobres e doentes. Eis que surge o Grande Mestre, o Messias,
previsto por muitos. Mas, para a surpresa daquele o povo da época, Ele era
um homem simples, pobre e humilde de coração. Nasce sem celebrações
sultuosas, crescendo junto aos carentes, caluniados, cruéis, doentes, fracos
e arrependidos. É aceito, inicialmente, pela classe que clamava socorro a
quem lhes estendesse a mão. Desta forma, foi negado pelos poderosos e
vaidosos que não podiam ver na simplicidade daquele homem o esperado
Messias. Classificaram-no então como messias dos pobres, o rei dos judeus,
já que esses acreditavam no monoteísmo. O Cristianismo nasceu, cresceu, se
enraizou na terra e alastrou-se pela crosta. Quando os poderosos governantes
viram não podiam mais ignorar aquela crença na qual seus fieis suportavam os
mais duros martírios em nome de um carpinteiro humilhado, torturado e morto,
incorporaram-na à sua crença, aceitando o que lhes convinha. Ao passar dos
anos, a mensagem sofreu influências políticas, ideológicas e más
interpretações. E, quase dois milênios depois, assim como a lei do Amor,
pregada pelo Cristo na época onde a lei mosaica impunha-se desvairadamente,
a sabedoria divina sacode a novamente razão dos homens perante a verdade dos
fenômenos da vida após a morte. E surge o espiritismo, cuidadosamente
analisado, classificado e organizado numa doutrina de caráter cientifico
baseada em evidencias e na razão. Desperta uma ciência de cunho doutrinário
nas mãos de um preparado cientista, inicialmente incrédulo. E assim teve de
ser, para que seu codificador desse à futura doutrina o caráter experimental
e observatório, necessários à solidificação da mensagem. E, numa época onde
a ciência e religião declaravam-se inimigas, nasce do ventre cientifico
novamente mensagem do Cristo. Porém, agora, pura, completa e livre de
dogmas, ritos ou hierarquias, num trabalho formidável da espiritualidade
para os homens que passam pela terra. A mensagem toca no âmago de cada um
que se dá ao trabalho de estudá-la com afinco e esteja em certo grau de
progresso para compreendê-la, aceitá-la e praticá-la. Os que hoje a negam a
aceitarão no futuro, numa existência ou em outra, pois terão de encarar a
realidade que estudamos desta forma, não forçamos ninguém a aceitar coisa
alguma. É talvez este um dos maiores feitos do espiritismo praticado;
convencer pela brandura e pelo exemplo. O espiritismo desdobra conceitos
quebrando falsas idéias, mitos e crenças embutidas pelos próprios homens
que, em sua natureza ainda inferior, corrompiam tudo que tocavam. O
espiritismo é, por assim dizer, uma ciência de observação de caráter
religioso que revive o Cristianismo, convertendo, através da razão e do bom
senso, os chamados trabalhadores da segunda hora. E valemo-nos da afirmação
de seu magnífico codificador em sua memorável frase: "Não há ninguém que,
após um estudo sério e racional, não se renda às idéias espiritas." Pois, é
através da fé raciocinada entre a ciência e a religião que o homem
despertará para as verdades desta vida.


Continua...

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sexta-feira, 23 de julho de 2010

Testemunho de um Ex-Materialista

"Meus queridos amigos de caminhada, sem embaraços, venho até aqui dar meu
testemunho para vosso auxilio e instruçao. A estrada a percorrer é larga,
mas o homem a faz penosa por nossos próprios erros. Os convites aos desvios
são números e tentadores, porém, meus irmãos, todo o amparo, sugestão e
sofrimentos nos são colocados à frente para que enxerguemos o caminho
errado. E precisamos da lente de humildade para verificar nosso erro e nos
postarmos novamente à estrada larga destinada à ascensão que é destino de
todos. Meu nome é Mauro e vou aqui contar minha estória. Nasci em família
abastada, infelizmente com pouco valor moral. Meus pais também herdaram
grandes bens, porém poucas virtudes, trabalho até hoje por eles. Em minha
infância nada foi negado, cresci sem limites e jamais conheci a necessidade.
Minha adolescência, como era de se imaginar, regrou-se de drogas de diversos
tipos, sensualidade e luxuria. Aos meus irmãos de diferente opinião ou
inferior classe social impunha humilhações inimagináveis. Violências
gratuitas, impropérios e subornos me mantinham nos mais profundos desvarios.
Era um jovem onde o luxo, bem como os recursos financeiros e minha vaidade,
não tinham limites. As vozes amigas tentavam em vão me alertar e, de mim,
recebiam gargalhadas irônicas de desprezo em troca. Ainda jovem, antes dos
trinta anos, contraí o matrimonio com linda donzela que ascendera, através
da moda, de classes humildes. Não demorei a destruir minha ultima esperança
de ajustamento: o lar. Humilhava minha linda esposa como fosse um objeto a
ser usado das mais diversas maneiras. Suas belas formas fazia-me vê-la mais
como um objeto sensual a qual era sua obrigação servir-me. A infeliz,
sabiamente, deixou-me antes de enlouquecer. Como fuga, aumentei minha
presença em bares, danceterias e bordeis. O objeto era sempre o prazer. O
prazer... quanto mais era melhor. Mas, na medida que eu alimentava meus
instintos terrenos, crescia em mim um vazio inexplicável. Um vazio que eu
tentava calar com as mais diversas companhias. Neste ínterim, tornei-me
intimo de três companheiros. Julio, Marcelo e Carlos. Quase todos na casa
dos quarenta anos, o mundo parecia nosso e deveria ser explorado, os limites
eram facilmente violados com o dinheiro. Carros, mulheres, casas e
apartamentos. A praga do dinheiro não se acabava. E usávamos de tudo, como e
o quanto podíamos. Meus pais se foram sem que eu soubesse a causa. O que eu
poderia sentir de alguma dor ou remorso era facilmente afogado num porre de
uísque. Ao entrar na idade onde o homem verdadeiramente desperta, observei o
falecimento de Julio num acidente automobilístico e o de Marcelo, já
conhecido em algumas delegacias, por overdose. Estas duas mortes me chamaram
a atenção da temporariedade da existência, mas não me entreguei a
preocupações. Eu, Carlos e mais alguns amigos interesseiros demos
continuidade a vida de noitadas, mulheres e desvarios dos mais diversos e
absurdos. Entretanto, uma abençoada doença levou-me ao hospital para tratar
o corpo que não mais suportava tantas injurias. Pulmões, fígado e intestinos
comprometidos. O quadro era grave e algumas semanas num leito de um hospital
me colocam a pensar e refletir. Eu tivera tudo, mas não tinha nada. Bebi no
cálice do pecado por centenas de vezes e não mais sentia prazer algum. O
mundo que antes parecia ilimitado, limitou-se. A vida era limitada. Meus
sonhos ainda eram sensações e desejos eróticos cheios de avarezas e prazeres
de todo tipo que eu parecia não mais poder usufruir. Minhas visitas
resumiam-se a pedidos de uso de minhas herdadas residências e automóveis,
até dinheiro, por parte daqueles que eu chamava colegas. Confesso que nunca
houve votos de sinceridade. Certo dia um médico, após certa bajulação,
devido a minha posição na sociedade, me afirmara que eu poderia ter alta se
observasse algumas regras e restrições. A esperança que ele tentava me
passar estranhamente em nada me animava. Eu era um homem trapo com pouco
mais de quarenta anos de idade e agora com a consciência perturbada. A vida
a fora era um vazio que eu não podia compreender pois já havia de tudo
tentado. Estranhamente falei para ele não se preocupar que estava bem ali e
não tinha pressa em partir. Sabia decisão, ali fiquei por mais alguns dias.
Numa tarde de domingo, um grupo de religiosos entrou na ala que eu estava e
não me negaram comunicação. Após um cumprimento, Silvia, uma senhora de
rosto delicado tocou uma das mãos oferecendo-me uma rosa, recebi sem muito
falar. Minutos mais tarde uma criancinha de olhar doce e angelical, sem
cabelos puxou assunto comigo. Fui levado às lagrimas ao tentar encontrar
palavras para falar de minha vida. Calei-me, mas ela compreendeu. Seu nome
era Gabriel, meu anjo Gabriel. Ele falecera algumas semanas depois, mas me
deixou o maior presente da minha vida. Ele me acordou para o que era
realmente a vida. E, quando Silvia, a senhora de face delicada, retornou
conversamos por horas. Deixei o hospital imediatamente para o abrigo que
aquele grupo dizia sustentar. Esvaziei os recursos financeiros que me cabiam
e tripliquei o número de crianças auxiliadas naquele abrigo dando-lhes
conforto e até atenção. Certo dia, sonhei receber uma flor do meu anjo
Gabriel, foi o momento mais sublime de minha existência. Tempos mais tarde,
numa festa de aniversario, preparada para mim, naquele abrigo que trabalhava
e morava senti o amor, o prazer e a satisfação que tanto procurei na vida.
Sem sucesso tentei conter as lagrimas para não constranger as criancinhas. A
sublimação de meu espírito alcançou limites num êxtase jamais imaginado.
Chorei no colo de dezenas de criancinhas que salvaram a alma de um pecador
que agora conhecia verdadeira felicidade. Nenhum prazer terrestre jamais me
fizera, ou poderia tê-lo feito, sentir sequer um fragmento do que aquela
felicidade que eu sentia ao me doar naquele trabalho. Passado certo tempo,
ao me preparar para uma das aulas de evangelização que eu tentara ministrar,
sob sugestão de Silvia, li em lágrimas a frase do Cristo: "Eu tenho alimento
que o mundo não conhece". Roguei agradecimentos ao Pai e ao divino Mestre
por ter encontrado na caridade o alimento da alma, o prazer infinito do amor
praticado em favor do próximo, a satisfação que não é deste mundo,
temporário e que as traças e a ferrugem corroem. Morri na terra pobre como
um ex-rico, ridicularizado pelos companheiros menos felizes. Chamado de
louco por aqueles que não compreendiam o sentimento que experimentava. Não
salvei ninguém, fui salvo. Compartilhar o teto com crianças abandonadas e
necessitadas de toda ordem curou-me as chagas e alimentou-me a faminta alma.
Acordei num plano onde minhas roupas não estavam mais em trapos, mas sim
brilhantes pelo sol celeste do amor. Enquanto minha visão se clareava vi meu
Gabrielzinho com uma flor nas mãos e os braços abertos. Ajoelhei-me a seus
pés e beijando-os implorei que me enviasse de volta, pois não era digno de
ali estar e tinha trabalho a fazer. Ele me levou para um abrigo onde fui
recebido por pais e mães que achavam me dever algo pela assistência prestada
em terra. E eu, somente me envergonhava da minha vida antes de encontrar
Silvia e meu anjo Gabriel. Trabalho ainda num abrigo sob a tutela de nosso
Mestre e o alimento é abundante."

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Mais estórias em: http://estoriasespiritas.blogspot.com/

sábado, 17 de julho de 2010

O Desencarne de uma não espirita (Parte 2)

Em lágrimas, após seu desligamento, Amélia entrega-se ao belíssimo anjo que
a toma no colo fraternalmente e partem para a colônia dos Servos de Maria.
Amélia desperta em um hospital onde permanece por algumas semanas até que
seu perispírito esteja novamente em ordem e equilíbrio. Durante sua estadia
ela questiona os auxiliares e enfermeiros do por que daquele estado e local
exigindo que a levassem ao paraíso. Sua inabalável crença trazida não lhe
permitia aceitar nenhuma explicação oferecida. Ela exige a presença de um
dos lideres daquele plano que compartilhasse suas convicções para dar-lhe
ouvidos. Passados alguns dias, o irmão Amaro se apresenta como um antigo
pregador evangélico que já alguns anos deixara a crosta e agora lecionava em
algumas escolas daquela colônia. Um carinhoso, instrutivo e diário contato
se estabelece. Eis alguns trechos das conversas de ambos: "Pastor, eu não
compreendo o que se passou e se passa comigo? Onde está o paraíso? Onde
estão os anjos? Eu mesma vi um. Por que fui ao inferno e voltei? Que estado
é este em que eu me encontro? Sinto dores e não consigo me mexer direito."
Amaro, lhe acariciando os cabelos, lhe fala: "Minha irmãzinha, as
explicações virão a seu tempo. Seu estado atual é resultado de sua
imprevidência para com seu corpo físico, você será tratada com amor e
carinho pelos irmãos que aqui se dedicam a sua saúde." Amélia: "Saúde? Como
assim se eu morri?" Amaro: "Infelizmente você não compreendeu toda a lei que
lhe foi oferecida, tolheu-se num raciocínio limitado e se fechou para um
maior entendimento das verdades alimentando falsas idéias e ideais. Seu
estado hoje aqui é a manifestação espiritual de suas atitudes na crosta."
Lentamente, dia após dia, Amélia vai se desligando de falsas idéias e
vagarosamente vai aceitando contato e convívio dos que só procuravam
auxiliá-la. Em poucos meses de tratamento intensivo no Hospital da colônia,
ela pôde sair para assistir palestras, passear e se instruir. Recebeu também
a visita de entes queridos e se identificou cada vez mais os ajudantes e
enfermeiros que lhe atendiam com grande préstimo e benevolência. Passados
alguns anos desde seu desligamento da matéria, Amélia recebe autorização
para algumas visitas a seus entes que permaneceram na crosta. Certa vez, num
dos belos jardins da colônia, Amélia encontra uma velha amiga, conversam e
se divertem ao lembrar de estórias terrenas as quais, agora, sob aquela
ótica transcendental, de nada tinham de triste. Compreendem a vida como uma
apresentação, uma arena onde a arma era o Amor instituído pelo Pai e
ensinado por Jesus. Amélia desabafa humildemente com a amiga: "Minha querida
irmãzinha, não imaginava que o Pai permitisse construções tão belas quanto
as que temos aqui. Soube que esta colônia é também indicada a desencarnados
que estão dando seus primeiros passos na senda religiosa terrena. Não me
permitiram conhecer existências passadas, os poucos detalhes que pude
conhecer, para meu próprio aprendizado, assim o disseram, foi que em meu
penúltimo retorno tornei-me convicta no divino Mestre. Porém, infelizmente,
na última existência não pude fazer tudo que poderia. Limitei-me a verdades
moldadas pelos homens, desrespeitei meu corpo físico e ignorei muitos que
somente queriam me ajudar abrindo-me os olhos. Oro muito por estes todas as
noites pedindo que o Pai os abençoe, que eles continuem levando a outros
irmãos da terra a mensagem espírita e que recebam forças e motivação, mesmo
encontrando desprezos e injúrias. Ah, minha amiga, se eu não estivesse
pronta para perceber isto hoje estaria agora em prantos de lamentação pela
existência pouca aproveitada. Se o que aprendi me levou a fazer algo de bom
para meu progresso isto talvez teria sido pouco mais de 1 por cento. Me
disseram que era para ser assim, que eu poderia até mesmo ter aceitado
outras idéias que me chegavam, mas ser Cristã naquela existência, para mim,
já era um grande salto beneficente. Rogo bênçãos ao Pai pelo Codificador que
levou a mensagem do Espírito da Verdade à terra e aguardo oportunidade de
retorno onde quero trabalhar por ela. Pois ela é a divina água que limpa e
clareia os ensinamentos do Cristo. No atual mar das agitadas correntezas
pelas quais o homem encarnado navega, Jesus é bússola e o Espiritismo o
santo pano que limpa o vidro do instrumento borrado pela águas que ele mesmo
agita em sua turbulenta caminhada."

O Desencarne de uma não Espírita (Parte 1)

Esta estória real, contada pela própria protagonista, por meio de uma
psicografia, descreve um caso de uma complexa transição e nos ajuda a
compreender como é trabalhoso e sofrido o retorno à pátria espiritual dos
mal informados. Compartilho-a aqui em terceira pessoa:

Amélia era uma crente fervorosa, praticava tudo conforme a interpretação do
orientador de sua igreja mandava. Lia os evangelhos, comparecia aos cultos,
contribuía na casa como era possível. Já madura e mãe, vitimada por um
problema cardíaco, seu corpo físico faleceu. Seus, ainda fortes, laços
fluídicos, mantiveram-na na terra por mais tempo que o desejado. Estava
ainda ligada ao antigo corpo físico, agora imprestável e que agora jazia
dentro de um caixão. Sua consciência despertava aos poucos com rápidos
lapsos de lucidez que oscilavam entre ver, ouvir e sentir impressões
externas juntamente com lembranças de alguns momentos de sua vida. Aos
poucos, a lucidez aumentava unida a algumas duvidas. Um desconforto tomava
forma, assim como incômodos em varias partes do corpo espiritual. A
serenidade e a fé deram ligar ao medo, a dúvida e preocupações. Sua visão
lentamente ficava mais nítida e o ambiente parecia hostil. A fraqueza e uma
estranha atração à maquina corpórea, que não mais respondia, a confundia
desesperadamente. Impossibilitada de sequer dar mais que alguns passos,
odores desagradáveis, visões macabras e idéias confusas deram lugar a um
estado de pânico que não tardou a se instalar. Em sua mente vinham algumas
questões a respeito daquele lugar que ela tentava associar involuntariamente
a momentos de sua vida; a pregação do líder de sua igreja, sua repugnância
às demais crenças, o não aceite em observar outros mandamentos que lhe
chegavam por meio de estranhos e amigos. Ela nem mesmo compreendia por que
estava passando por tudo aquilo. As sensações eram incompreensíveis e davam
lugar a elucubrações cada vez mais confusas que por sua vez faziam-na
visualizar criações mentais de espíritos infelizes nas redondezas do
cemitério onde sua cova jazia. Em outro campo vibratório, porém no mesmo
local, um número considerável de amigos fraternos a assistia. Alguns
trabalhavam no desligamento dos laços que a mantinha entrelaçada ao corpo
físico, outros aplicavam passes sobre sua mente de modo procurar fazê-la se
acalmar para que, assim, voltando seu espírito e sua vontade ao alto,
pudesse despertar perante algumas questões que talvez explicassem o que se
passava. Mas, infelizmente, o pouco preparo de Amélia não a permitia
compreender o apoio incessante e, ao invés de desejar desligar-se do corpo
físico e do local que a convidavam a sofrimentos inenarráveis, ela se
embaraçava cada vez mais em suposições que a levavam a estados ainda mais
infelizes. A situação perdurou alguns dias agravadas por pensamentos de seus
entes queridos, ainda encarnados, que lhe transmitiam tristeza e dolorosa
saudade. Até que o trabalho dos prestimosos auxiliares espirituais se deu
por completo: os laços fluídicos, que a mantinham-na presa ao corpo físico,
estavam completamente quebrados. Uma nova fase se iniciava e urgia
transportar o perispírito da senhora para um local de trabalho adequado. O
coordenador da missão prepara o plano que envolvia técnicos habilidosos, o
anjo de guarda de Amélia, caravana e transporte, recepção e instruções
futuras. A pobre senhora não podia visualizar sequer uma pequena fatia da
trabalhosa, elaborada e delicada operação que se transcorria em seu
benefício. O coordenador da missão conclui que mais alguns dias na crosta
terrestre ainda seriam de grande importância. Aplicam então um passe
balsâmico e fazem-na adormecer, transportam-na para uma célula de
atendimento espiritual, próxima a uma área onde a natureza abundava e
oferecia diversos recursos. Horas depois ela desperta e suas duvidas e
criações mentais voltavam a borbulhar. Os auxiliares procuravam minimizar a
situação enquanto outros técnicos, dentro dos limites permitidos, procuravam
domar as criações mentais criadas. No intimo de Amélia, se o paraíso agora
não se apresentou algo estava muito errado. Jesus não lhe abrira os braços
com seus santos anjos para recebê-la. Logo, infelizmente, por um motivo que
ela desconhecia, estava no inferno. E, neste ínterim, ela começa a moldar em
volta de si a forma como aprendeu a crer no inferno, segundo gravuras e
contos de sua religião. O ambiente se transforma e densificava cada vez
mais. Poucas horas depois, entidades, frutos de sua própria criação, munidas
de chifres, patas, rabos e tridentes a circulavam como a torturá-la. Havia
forte sensação de calor insuportável. Gritou, chorou e tentava fugir como
podia, mas suas criações a perseguiam com tanto afinco quanto ela as
alimentava. A triste situação assim permaneceu por mais alguns dias, até
que, notando certa receptividade, o coordenador da missão lhe insufla na
mente: "Deus é bom, é bom. Ele é todo bondade e lhe quer ao lado Dele!" A
mensagem toca o intimo da senhora que se acalma e raciocina sobre aquela
estranha intuição, se ajoelhando e, não mais suportando a situação, estende
as mãos ao alto rogando a Deus misericórdia: "Salve-me senhor, salve-me! Não
mereço! Te imploro. Por favor!" O pedido toma força de prece, as criações
mentais de Amélia perdem força agora dando lugar a imaginar Deus e seu reino
divino que, agora, habilitavam os técnicos a transmutarem as energias densas
criadas e prestar auxilio e sugestão mais intensa. Neste momento, o
coordenador da missão toma forma de um lindo e brilhante anjo e, ajustando
seu padrão vibratório ao de Amélia, faz-se visível a ela. O anjo brilhante,
batendo suavemente as enormes asas douradas a alguns metros do solo e num
fundo de grande luz e beleza, lhe estende os braços e diz: "Vem! Vem minha
filha!" Amélia sente-se deliciada, aliviada, como se houvesse sido resgatada
das profundezas de um inferno incompreensível. E, em lágrimas, entrega-se ao
belíssimo anjo que a toma fraternalmente no colo e a caravana, que já
aguardava, parte para a colônia: "Servos de Maria."

A viagem de Amélia estava apenas começando...

sexta-feira, 2 de julho de 2010

A conversa entre o Crente e o Ateu

Após o discurso, um ateu aborda o palestrante: "Não consigo acreditar no que
diz, acredito que a vida é uma conseqüência do acaso e que tudo se extingue
na morte." O palestrante, pacientemente sorri e o chama para conversar lhe
falando: "Mas você já estudou todos os fenômenos que julgais conhecer? Por
um acaso a ciência já penetrou nos mais íntimos campos? Não, a ciência cada
vez mais se desenvolve e vê abrir diante dela um universo a ser cada vez
mais explorado. Antes de negar, estuda. Pesquise os resultados daqueles que
já se interessaram sobre o que chamais de sobrenatural." O homem interrompe
e diz: "Mas creio serem nada mais que mistificadores interessados no sucesso
financeiro." O palestrante redargua: "Está ai uma das ferramentas para
descobrir embusteiros. Verá homens e estudiosos respeitáveis dotados dos
mais sinceros desapegos e eles lhe confundirão." O ateu: "Ouvi falar de um
tal Chico Xaiver, seria este um deles?" O palestrante: "Sem dúvida alguma.
Este deve lhe deixar um tanto intrigado, não? Como um homem que poderia
abrir mão de tudo para doar e se doar e como explicar tão extraordinários
poderes?" O ateu: "Mas não é por que não entendo que devo aceitar." O
palestrante: "Ainda não. Mas somente; ainda. Seu progresso hoje lhe permite
apenas dúvidas, o que antes poderia ter sido ridicularizarão ou condenação.
Sua abertura a maiores questões é fase notória de seu despertar que talvez
nem mesmo se dê por completo nesta vida. Alguns fatos devem lhe chamar a
atenção e gritar-lhe à curiosidade, não? Como um homem, de nome Jesus,
mudaria tanto na estória? Ao ponto de se zerar o calendário? Ele foi como
uma lagarta que rastejou como homens, praticamente comum aos desconhecidos,
para mostrar que há mais vida do que a que lhes estavam à vista e
futuramente alçar vôos conhecendo mundos que não eram possíveis desbravar,
pois quando ainda homens nada mais eram que somente lagartas a se
desenvolver." O ateu: "E se todos estiverem errados?" O Palestrante: "Se
somos seres eternos o que seriam 100 anos de redenção? Agora, se a vida
começa e termina aqui e temos a opção de levá-la aos limites dos prazeres,
sem moral ou ética alguma seria somente um acordar e dormir. Mas se
estiverdes errados? Trocarias um trilhão de moedas de outro por apenas cem?
Meu irmão, o próprio fim é a mais visível prova de que este o mundo não é o
real. Verás em sua vida que somente o amor entendido e praticado pode
movimentar o progresso e que sua alma vibrará ao sofrê-lo, tanto quanto hoje
a duvida lhe chama, para que futuramente o pratique." O ateu permanece
confuso e em silêncio por alguns instantes, despedindo-se pensativo. Neste
momento, um estudante, que ouviu a conversa, comenta com o Palestrante:
"Como é triste ver nossos irmãos se esforçando em não acreditar." O
Palestrante contrapõe: Não meu filho, como é dignificante vê-los lenta e
suavemente despertando. É necessário entender que o progresso para o nível
de espiritualização que nosso planeta se encontra atualmente se dá
lentamente. Deus não coloca a luz no alqueire mas a espalha para quem quiser
ver. De que adiantaria mostrá-la a um cego que mantém seus folhos fechados
por opção? Nem mesmo grandes milagres os convenceriam até ele mesmo resolver
crer."

quarta-feira, 23 de junho de 2010

O jovem e o Professor

O professor de religião assiste a uma briga entre dois alunos. Um, que acaba
tomando uma surra maior, exibe nos olhos o desejo de vingança durante dias.
O passivo instrutor, sem sucesso, tenta persuadi-lo a desistir. Dias mais
tarde, vendo o jovem afundado em mais brigas e estados físicos e morais cada
vez mais deprimentes, ele procura uma oportunidade para nova aproximação.
Sábio e calmo, analisa os momentos e a receptividade do jovem em cada
situação procurando um estado de arrependimento que facilitasse a
assimilação das novas idéias. Durante uma aula ele nota seu aluno com
semblante diferente, talvez inclinado a aceitar novas sugestões. Ao final,
para sua surpresa, o aluno não sai para o recreio, como se estivesse perdido
em suas ações e, inconscientemente, suplicando uma luz como a lhe mostrar o
caminho a ser seguido. O professor se aproxima calmo e sereno e o aluno lhe
diz: "Eu deveria ter lhe ouvido para não mais buscar brigas, acho que devo
ser mesmo um covarde. Lá em casa meu pai sempre me ensinou a revidar e
também sempre ouvi o que você diz sobre Jesus em suas aulas. Ele foi mesmo o
que você diz? Que Deus iria querer o seu melhor filho sofrendo tanto?" O
professor lhe explica: "O verdadeiro mérito não está no revide, mas sim na
aceitação. Há mais coragem em suportar uma prova a que ceder a um desafio.
Jesus nos ensina, e vem assim purificando a humanidade desde aqueles tempos
de crueldades, que mais vale sofrer a pena a que imprimi-la. A verdadeira
coragem, a coragem do amor, é tomar para si a dor e levá-la sem esperar
apoio ou compreensão. Jesus foi a mais bondosa criatura que Deus já enviara
à terra e sofreu os piores escárnios para nos mostrar que estamos sujeitos a
traição, mentiras, calúnias e todas as dores; físicas e morais. A lei de
Deus é regida pela Justiça e pelo Amor e cada lagrima resignada deixada por
sobre esta terra representa uma benção a ser recebida nos Céus." O menino
fica em silencio por alguns segundos, como que absorvendo aquela profunda
explicação e procurando aplicá-la às suas ações preterias e figurá-la
futuramente. Ele diz: "Lá em casa meus pais brigam muito e também comigo,
por que sofremos tanto? Não me lembro de tê-los feito mal." O professor
explica: "Todos estamos a caminho de Deus, aprendendo com a vida, muitos com
sofrimentos outros, ainda, agredindo. Mas terão, através da dor, suas
lições. O arrependimento é o convite ao progresso. E o progresso é um rio
que mergulhamos onde vestimos a roupa carnal e nos entregamos à vida, como
conhecemos aqui na terra. Ao chegarmos no fim de cada mergulho, retornamos
novamente às margens deste rio, deixamos a roupa que utilizamos, nos
instruímos, aprimoramos, nos regivoramos. E, analisando cada mergulho, vamos
apagando os erros com novos acertos em novas existências, desaguarmos no
oceano divino." O jovem pergunta: "Mas por que não podemos logo encontrar o
oceano de uma só vez?" E o professor conclui: "Eu disse que Ele é bom, mas
também é Justo. Enquanto ainda sujos, com as vestes manchadas por nossos
erros, não podemos adentrar às aldeias puras, por isso retornamos às
experiências terrestres para provar o que aprendemos e colocarmos em pratica
os princípios que o Cristo nos ensinou e nos purificarmos até o grau máximo
onde o Pai nos espera."

terça-feira, 15 de junho de 2010

O caso de Bebeth

Vou contar aqui uma estória verídica e muito instrutiva, que ouvi numa
palestra do Divaldo Franco. Tento reproduzi-la com de maneira breve e do que
pude me lembrar, mantendo os detalhes principais, peço perdão de já por
qualquer inconveniente.
Alguns anos atrás, Um casal muito apaixonado casou-se. Rapidamente reuniram
grande patrimônio se tornando cidadãos da mais alta classe. Em determinado
momento, decidiram por ter um filho. Para eles uma criança traria ainda mais
felicidade ao lar. Nasce uma linda menina, de cabelos dourados e olhos
azuis. Ainda com poucos anos de vida a criança demonstra notáveis traços de
meiguice, amabilidade e carinho. Ela conquista o coração dos pais e de todos
que se relacionam com ela. O trabalho obriga o pai a manter-se ausente de
casa com freqüência, ele diz que ser para manter a fortuna da família. Certa
vez, ele senta-se com a esposa e lhe diz que está tendo um caso com outra
mulher. A esposa cai em prantos, mas tenta não se desesperar, talvez na
esperança daquilo ser uma fase que fosse em breve passar. Ela suporta a
traição do marido que aparece em casa cada vez menos. Até que, certa vez, a
tão amada filhinha, carinhosamente chamada pelo casal de Bebeth, procura o
pai no escritório da casa. Embora ainda muito nova, com seus sete aninhos,
pergunta ao pai por que ele fica tão pouco em casa. Ela diz que sente
saudades e que as vezes vê a mamãe chorando. Ela diz que ambas sentem muito
a falta dele. O pai sente-se tocado pelas palavras da criança que, embora
muito jovem, demonstra grande afeto e percepção. O pai promete a filha que
irá mudar e, de fato, muda, ele termina seu caso com a amante e fica mais em
casa. Certo dia, a mãe de Bebeth começa a procurar pela menina que estava
brincando no quintal da casa. Passam-se horas, dias, semanas e a menina está
desaparecida. A família, em pânico, não sabe mais a quem recorrer, quando um
oficial bate-lhes a porta de casa informando que o corpo de uma menina foi
achado num pântano. A notícia é chocante para os pais que são obrigados a
verificar se era sua querida Bebeth, de fato era. O corpo da menina estava
em pedaços dentro de um saco deixado numa área pantanosa. Os pais, e toda a
cidade, ficam chocados com a noticia. A mãe, a beira de um desespero, já sem
mais saber a quem recorrer para lhe consolar o coração, encontra uma velha
amiga que lhe comenta sobre um hábil médium que traz conforto e muitas
explicações para casos como aquele. A mãe não perde tempo, freta um jato e
parte para a cidade do médium. Ao chegar ao local, vê uma fila interminável
de pessoas, ela tenta manter o equilíbrio, mas não consegue e começa a
chorar e gritar. Uma senhora, que também está na fila se aproxima e pergunta
o caso da recém chegada. A mãe conta a estória e a mulher lhe diz: "Seu caso
é mais grave que o meu, tome meu lugar. Eu perdi meu filho num acidente de
carro, mas seu caso merece mais atenção, pegue meu lugar, vamos." E a mãe,
muito agradecida, entra na fila emocionada e oferece dinheiro a moça, que
lhe diz: "Não me ofereça nada minha senhora, eu também sou muito rica, mas
nosso dinheiro aqui de nada vale. Não há distinção de classes aqui e nosso
patrocínio não pode nos oferecer privilegio algum. O homem que está na casa
no final desta fila nada recebe ou cobra pelo que procuramos. A fila é longa
e pode demorar semanas, o que podemos fazer é aguardar e sou eu quem lhe
ofereço, no final do dia, um lugar para ficar, fique comigo e voltaremos
aqui juntas com nossas dores até falarmos com aquele homem." E assim se deu,
passado alguns dias, a mãe de Bebeth entrega a senha a uma das auxiliares da
casa que lhe dá um papel para mentalizar a pessoa e escrever um único nome
juntamente com seu grau de parentesco. Ela assim o faz e entra na casa
juntamente com a amiga que lhe cedeu o lugar. Elas aguardam por várias
horas, ouvindo diversas mensagens dos que ali se encontravam numa reunião
estranha até então. Quando derrepente o médium lê das cartas que recebeu:
"Querida mãezinha xxxx, muito feliz aqui estou. Primeiro por ter vindo me
procurar, tendo paciência e perseverança. Segundo pela sua ação. Aqui tenho
estado algumas vezes, mas minha comunicação somente seria permitida daqui a
várias semanas. Porém, sua atitude de ceder seu lugar aqui hoje me permitiu
lhe falar. Porque esta é a lei, você deu, você recebe. E hoje aqui estou em
duplamente feliz para lhe contar o que se passou comigo... Ass. Xxxxx." A
mãe de Bebeth observa a amiga que lhe cedera o lugar em prantos de jubilo,
quando a próxima mensagem psicografada que começava a ser lida lhe chama a
atenção: "Mamãe, se pensa que sofri não se preocupe mais, nada senti. Em
breve saberá quem fez e porque do ocorrido comigo. Vou lhe contar que estava
no quintal e uma moça, dizendo-se amiga de papai, se apresentou e pediu que
eu fosse com ela. Entrei no carro, ela foi muito gentil, me deu uma barrinha
de chocolate, adormeci em pouco tempo. Acordei num lugar maravilhoso,
cercada por pessoas boas que hoje me trouxeram aqui. Tenho muitos amigos,
tão legais quanto a professora Elisa da escola. Mas moro com uma pessoa que
me disse que você se lembraria, é a vovó Nathalia, que agora escreve o que
dito. Não conheci ai, mas ela disse que vocês foram muito íntimas. Ela me
pediu pra lhe dizer que está cuidado de mim, assim como cuidou e amou você.
Ela não mais sofre do problema de visão e pode ver muito bem. Agora, mamãe,
o que vou lhe pedir é muito difícil, mas já que veio ate aqui quero que
tente fazer de todo o seu coração. Perdoe! Perdoe e tenha paciência, estarei
com vocês sempre. De sua filhinha, Bebeth." Lágrimas jorram dos olhos da mãe
da menina, ela não tem forças para se levantar. O famoso e humilde médium se
levanta, vai até ela e lhe entrega as paginas psicografas, onde a mãe de
Bebeth reconhece as letras da falecida e querida avó. Aquele estranho homem
que exala bondade no olhar lhe abraça, diz algumas palavras que ela jamais
irá se esquecer e lhe dá um livro chamado: "O Evangelho Segundo o
Espiritismo", surpreendentemente o livro já está autografado com o nome
completo dela, uma breve mensagem e a assinatura do Médium: "Chico Xaiver".
A mãe de Bebeth volta pra sua cidade, aliviada e se sentindo uma nova
pessoa. A assassina é encontrada, era a ex-amante de seu marido. A mãe de
Bebeth pensa em vê-la na cadeia, ainda antes do julgamento, mas ela se
lembra das mensagens e procura antes estudar atenciosamente o livro
recebido. Após algumas semanas, ela visita a detenta que, ao vê-la, lhe diz
fria e rude: "Não me arrependo do que fiz e não quero falar com você." A mãe
de Bebeth, controlando as emoções, lhe diz: "Sei que ainda é muito breve
para você entenda alguma coisa. Mas sei que passará muito tempo aqui, então
quero lhe dar algo". E entrega o livro recebido do médium à mulher e se
retira. Após mais algumas semanas ela retorna e encontra a mulher mais
calma, muito diferente e ao lhe ver conta: "Senhora, sei que o que fiz não
merece perdão, não sou digna de lástima. Sofrerei nesta vida e em outras
para reparar meus atos. Entreguei-me a uma paixão proibida e descontrolada e
quando percebi que perderia aquilo que pensei ser meu, me revoltei. Ao
questioná-lo sobre os motivos pelos quais estava me deixando ele disse que
tinha em casa pedras preciosas e a mais reluzente delas era um tesouro de
cabelos loiros, olhos azuis, pele delicada e uma expressão angelical que,
certa noite, o pediu para voltar. Revoltei-me e agi descontroladamente, iria
deter aquela mulher que na verdade era uma menina, apenas uma menininha. E
que minha loucura não me permitiu ver mais do que uma rival. Para mim, não
era uma criança, mas sim uma competidora a ser eliminada. Nem mesmo a
delicada expressão daquela linda menininha foi capaz de deter minha atitude
atroz. Sofro hoje e sofrerei sempre com o olhar daquele anjo em meu impuro
ser. Este mesmo anjo me visitou num sonho nesta noite e me disse que você
aqui novamente viria para escutar minha confissão. Então, não vou lhe pedir
perdão nem que me entenda, eu mesmo não entendo cruel crime que cometi." A
mãe de Bebeth, com uma das mãos no rosto, tocada de espanto e profunda
emoção, procura forças para falar quando seu marido, logo atrás, começa a
pronunciar palavras agressivas. É quando, tocada por uma força pela qual,
ela mesmo não podia explicar, pede que o marido se cale, se aproxima das
grades e, estendendo as mãos para a mulher diz: "Pois eu lhe perdôo." A
presa, de rosto baixo, toca as mãos da sofrida mãe e as duas choram juntas
de mãos dadas por vários minutos.